Não somos racistas: a negação do racismo no discurso da mídia corporativa brasileira
De acordo com van Dijk (1992)
um dos meios mais eficientes de reprodução
do racismo é a imprensa, ainda que essa
constatação seja sistematicamente negada
pela própria imprensa. Neste trabalho, o
objetivo é investigar o discurso que sustenta
a negação de práticas racistas pela imprensa,
apresentado no livro “Não somos racistas”, de
Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo,
publicado em 2006. A discussão que propomos
está fundamentada no quadro teórico da Análise
Crítica do Discurso, especialmente sustentada
nos trabalhos de Fairclough e van Dijk que
discutem as relações de poder por meio do
discurso (FAIRCLOUGH, 1989; 1992 [2008];
van DIJK, 1992, 2008). Este trabalho se insere
em um projeto maior que visa problematizar
a presença do negro na imprensa online bem
como a construção discursiva de sua imagem.
Em fase inicial, a análise do livro permite afirmar
que os argumentos do autor se fundamentam
principalmente no mito da democracia racial
brasileira, o que pode ser exemplificado pelo
“reconhecimento” do Brasil como um país
racista apenas quando as discussões sobre
cotas invadiram o noticiário nacional: “quer dizer
então que somos um povo racista?” (KAMEL,
2006, p. 17).
Não somos racistas: a negação do racismo no discurso da mídia corporativa brasileira
-
DOI: 10.22533/at.ed.3581914087
-
Palavras-chave: Mídia. Negação do racismo. Racismo.
-
Keywords: Media. Denial of racism. Racism.
-
Abstract:
According to van Dijk (1992) one of
the most efficient means of reproducing racism is
the press, although this is systematically denied
by the press itself. In this paper, the objective
is to investigate the discourse that supports the
denial of racist practices by the press, presented
in the book “Não somos racistas”, by Ali Kamel,
director of journalism at Rede Globo, published
in 2006. The discussion we propose is based on
the theoretical framework of Critical Discourse
Analysis, especially sustained in the works of
Fairclough and van Dijk, who discuss power
relations through discourse (FAIRCLOUGH,
1989, 1992, van DIJK, 1992, 2008). This work is
part of a larger project that aims to problematize
the presence of the black in the online press as
well as the discursive construction of his image.
At an early stage, the analysis of the book makes
it possible to affirm that the author’s arguments
are based mainly on the myth of Brazilian racial
democracy, which can be exemplified by the
“recognition” of Brazil as a racist country only when discussions of quotas invaded the
national news: “Does it mean that we are a racist people?” (KAMEL, 2006, p.17).
-
Número de páginas: 15
- Daniele de Oliveira