Por que estudar documentos curriculares? Essa é uma pergunta que há muito é feita. Na realidade, desde a constatação de que o currículo é o conjunto de experiências escolares vivenciadas no cotidiano das escolas, pergunta-se qual é o papel dos documentos curriculares.

Temos respondido que, ao analisarmos os documentos curriculares, podemos apreender concepções que perpassam as políticas educacionais e que, sem dúvidas, repercutem na construção das identidades profissionais de professores. Os documentos curriculares revelam tensões e escolhas que representam modos hegemônicos de tratar fenômenos educacionais por pesquisadores e equipes gestoras, embora nem sempre seja condizente com as vivências didáticas de docentes, ou pelo menos de parte dos docentes. Neste estudo, o interesse pelos documentos curriculares decorre do reconhecimento de que o currículo é um documento prescritivo e que repercute sobre a produção de materiais didáticos e políticas de formação de professores.

O objetivo central deste estudo é analisar quais concepções de heterogeneidade perpassam as orientações dadas aos professores nas propostas curriculares, comparando os pressupostos expostos em relação às heterogeneidades individuais (também denominadas como “diferenças individuais”) e heterogeneidades sociais (também denominadas como “diversidade social”) e suas relações com as heterogeneidades de níveis de conhecimento dos estudantes.  A discussão também focará na reflexão sobre os papéis da escola quanto a questões sociais relativas às diferenças entre pessoas e grupos de pessoas.

Antes de começarmos a discutir sobre os dados produzidos nas análises dos documentos, faremos, a seguir, algumas reflexões sobre o fenômeno da heterogeneidade e sobre as categorias utilizadas na pesquisa.