FEBRE DE ORIGEM INDETERMINADA: RELATO DE CASO EM HOSPITAL DE ARACAJU
INTRODUÇÃO: A febre de origem indeterminada (FOI) clássica é definida pela presença de temperatura axilar maior do que 37,8ºC, em várias ocasiões, pelo tempo mínimo de três semanas e que se mantém sem causa aparente após uma semana de investigação hospitalar. As causas e a frequência de FOI variam com o tempo, o local onde foi feito o estudo e os critérios conceituais utilizados. As de origem infecciosa ainda representam maior parcela das etiologias, seguidas de causas neoplásicas, colagenoses, miscelânia e não diagnosticadas. O atual estudo objetiva descrever um caso de FOI internado em enfermaria de clínica médica de um Hospital de Aracaju durante o pós-operatório de cirurgia abdominal. RELATO DE CASO: Paciente ASC, sexo masculino, 62 anos, natural de Aracaju, buscou serviço de urgência com queixa de dor em região de dorso, com irradiação para hipogástrio, e parada de eliminação de fezes e flatos há 36 horas. Ao exame físico, apresentava-se em regular estado geral, com abdome algo distendido, reativo ao toque e doloroso. Após avaliação de radiografia de abdome, foi solicitada uma tomografia de mesmo sítio, que acusou torção de mesentério e vasos com consequente volvo de sigmoide, e o paciente foi internado. Foi identificada necrose segmentar de sigmoide, cólon direito e delgado, conduzida com retossigmoidectomia à Hartmann e second look de viabilidade de intestino. O paciente, então, procedeu em leito de terapia intensiva, intercorreu com novo quadro de vômitos e distensão abdominal, resíduo gástrico elevado, culminado em nova intubação e início de picos febris, com escalonamento de antibiocitoterapia para Vancomicina e Meropenem. Na busca de sítio infeccioso para os picos febris/subfebris persistentes, a odontologia descartou qualquer sinal infeccioso em cavidade oral, não houve relato de lesão por pressão ou exteriorização de sangramentos, o paciente se manteve sem linfonodos palpáveis, osteoartrite ou lesões melanocíticas e foi feito Trimetoprima com Sulfametoxazol e Piperacilina/Tazobactam sem mudança nos padrões de episódios febris. Elevação de temperatura também refratária a três dias de uso de Prednisona. Em exames complementares de acompanhamento, o paciente apresentou 3 amostras de diferentes de urocultura sem crescimento bacteriano, 2 amostras de hemocultura sem crescimento e 1 última com crescimento de Enteroccoucus Faecium sensível somente a Linezolida em dose padrão. Atribuiu-se, portanto, os picos febris a essa infecção da corrente sanguínea, tratada com esquema direcionado e mantendo observação para evolução do quadro após suspensão de antibióticos e corticoides que estavam sendo concluídos. CONCLUSÕES: Diante de um quadro de dificuldade de diagnóstico etiológico, foi lícita a recorrência de certas rotinas de exames complementares durante a internação desse paciente. A febre nosocomial está bem associada a procedimentos cirúrgicos, sondagem urinária, intubação endotraqueal, cateteres, medicamentos e imobilização que se associa à embolia pulmonar de repetição. Ademais, vale lembrar que o caso atendeu à epidemiologia brasileira de incidência etiológica do segmento infeccioso como causa ainda principal de FOI.
FEBRE DE ORIGEM INDETERMINADA: RELATO DE CASO EM HOSPITAL DE ARACAJU
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DOI: 10.22533/at.ed.1942301094
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Palavras-chave: febre de origem indeterminada, pós-operatório, infecção nosocomial.
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Keywords: fever of unknown origin, postoperative period, nosocomial infection.
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Abstract:
INTRODUCTION: Classic fever of undetermined origin (FUO) is defined by the presence of an axillary temperature greater than 37.8ºC, on several occasions, for a minimum period of three weeks and which remains without apparent cause after a week of hospital investigation. The causes and frequency of FUO vary with time, the location where the study was carried out, and the conceptual criteria used. Those of infectious origin still represent a larger portion of the etiologies, followed by neoplastic causes, collagenosis, miscellaneous and undiagnosed causes. The current study aims to describe a case of FUO admitted to a medical clinic ward of a hospital in Aracaju during the postoperative period of abdominal surgery. CASE REPORT: Patient ASC, male, 62 years old, born in Aracaju, sought the emergency service complaining of pain in the back region, radiating to the hypogastrium, and the elimination of feces and flatus had stopped for 36 hours. On physical examination, the patient was in fair general condition, with a somewhat distended abdomen, reactive to touch and painful. After evaluating the abdominal X-ray, a CT scan of the same site was requested, which showed torsion of the mesentery and vessels with consequent sigmoid volvulus, and the patient was hospitalized. Segmental necrosis of the sigmoid, right and small colon was identified, conducted with Hartmann rectosigmoidectomy and second look of bowel viability. The patient then proceeded to an intensive care bed, with a new episode of vomiting and abdominal distention, high gastric residue, culminating in a new intubation and the onset of fever peaks, with escalation of antibiotic therapy for Vancomycin and Meropenem. In the search for an infectious site for the persistent febrile/subfebrile peaks, dentistry ruled out any infectious sign in the oral cavity, there were no reports of pressure injuries or externalization of bleeding, the patient remained without palpable lymph nodes, osteoarthritis or melanocytic lesions and it was Trimethoprim with Sulfamethoxazole and Piperacillin/Tazobactam with no change in febrile episode patterns. Temperature rise also refractory to three days of Prednisone use. In complementary follow-up exams, the patient presented 3 different samples of uroculture without bacterial growth, 2 samples of blood culture without growth and 1 last one with growth of Enteroccoucus Faecium sensitive only to Linezolid in standard dose. Therefore, the fever peaks were attributed to this bloodstream infection, which was treated with a targeted scheme and observation was made to monitor the evolution of the condition after the suspension of antibiotics and corticoids, which were being completed. CONCLUSIONS: Faced with a situation of difficulty in etiological diagnosis, the recurrence of certain complementary examination routines during this patient's hospitalization was legitimate. Nosocomial fever is well associated with surgical procedures, urinary probing, endotracheal intubation, catheters, medications and immobilization that is associated with recurrent pulmonary embolism. Furthermore, it is worth remembering that the case complied with the Brazilian epidemiology of etiological incidence of the infectious segment as still the main cause of FUO.
- Kaio Alecsander Mendonça Santos
- Nanna Krisna Baião Vasconcelos
- Eduardo Machado Teles de Oliveira
- Érika Teixeira Andrade
- William Menezes da Silveira
- Clayton Augustinho de Souza Santos
- Alícia Caetano Silva Santos
- Vitória Santos Lima
- Yuri Hariel de Brito Cruz
- Isadora Silveira Ralin
- Maria Eduarda Fonseca de Melo
- Horley Soares Britto Neto