O presente trabalho apresenta uma experiência de leitura e escrita que vem sendo desenvolvida no Grupo de Estudos e Pesquisas Filosofia para Crianças (GEPFC/CNPq). A filosofía, por ter a palavra como sua materia-prima, utiliza-se das formas expressivas oral e escrita. Durante mais de dois anos líamos, em nossas reuniões semanais, uma letra de O Abecedário de Gilles Deleuze (1997). Os membros do grupo faziam a leitura individual e pensavam em como representar o seu pensamento sobre o que foi lido, por uma outra forma expressiva: o desenho. Somente após este distanciamento voltava-se à palavra, compartilhando o seu desenho coletivamente e comentando-o. Em seguida, escrevemos sobre o desenho e o que dele falamos, apresentando essa escrita para os demais envolvidos na leitura. Entendemos que esse exercício abre um espaço autoral e criativo com o pensamento do outro. Existem várias maneiras de entrar em um texto ou de deixa-lo entrar em nós. Abrir novos lugares para a leitura, escrita, fala e escuta do mundo, para nós, é como o início de um exercício que pressupõe liberdade na leitura – ela pode ser filosófica, não-filosófica, ou ambas. Essa experiência tem nos levado a desaprender um modo de ler, infelizmente muito comum também nas universidades, que pouco ou nenhum espaço cria para que o novo surja e para que o leitor sinta o nascimento de sua própria voz em diálogo com outras, reforçando mecanismos de controle e de poder do saber produzido. Nosso desejo, portanto, é fazer da leitura um exercício que possa dar voz ao leitor e, ao assim fazê-lo, encontrar, talvez, novos caminhos ou – dito ainda de outro modo – de com novos caminhos encontrar outras ideias para escrever o mundo.