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"ENTRE O DIVINO E O NARCISISMO: REFLEXÕES SOBRE RELIGIÃO, AMOR E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS"

A complexa interseção entre a religião e o narcisismo revela-se como um campo fértil para a compreensão da dinâmica humana contemporânea. O filósofo cristão Jean-Luc Marion desafia concepções tradicionais ao argumentar que a revelação divina ocorre de maneira incondicional e além de qualquer lógica previsível. Deus, segundo Marion, doa-se sem limites, convidando-nos a um encontro pessoal e misterioso com o divino. Essa visão contrasta com a perspectiva narcisista prevalente na sociedade atual, onde o indivíduo é muitas vezes guiado por uma busca incessante por autoafirmação, consumismo desenfreado e satisfação imediata. O Papa Francisco, adotando uma abordagem pastoral, destaca a importância da misericórdia e do amor incondicional de Deus, manifestados especialmente no perdão, na compaixão e na busca pela justiça social. Ele convoca os fiéis a serem agentes dessa gratuidade divina, estendendo-a aos outros por meio de gestos de generosidade e solidariedade. A religião, portanto, emerge como um chamado para promover uma cultura do encontro e acolhimento, desafiando a mentalidade narcisista que permeia a sociedade contemporânea. Christopher Lasch, renomado psicanalista, entra na discussão ao analisar a cultura narcisista na sociedade moderna. Ele aponta para a ênfase na individualidade e autoestima inflada na sociedade consumista, resultando em relações sociais superficiais e uma busca incessante por prazeres passageiros. A crítica de Lasch destaca como o narcisismo enfraquece os laços comunitários, comprometendo a solidariedade social e a formação de relacionamentos significativos. A seção seguinte explora as nuances dessa problemática, destacando a influência do narcisismo contemporâneo nas relações humanas, especialmente no âmbito do amor. A felicidade, muitas vezes buscada de maneira egocêntrica, torna-se o equivalente moderno da salvação. A análise do narcisismo revela a dificuldade de construir pontes genuínas entre o eu e o outro, desafiando o apelo do Papa Francisco para a construção de uma "cultura do encontro". A segunda parte do texto mergulha em uma análise mais profunda, explorando a interseção entre teologia e psicanálise. Destaca-se a importância da subjetividade e da escuta na compreensão da condição humana, evidenciando como a externalização e a estetização na pós-modernidade impactam a construção da identidade. O diálogo entre teologia e psicanálise emerge como um caminho para resgatar a dimensão relacional, superando a polarização entre interioridade e exterioridade. A reflexão se aprofunda na compreensão do corpo como elemento fundamental na abordagem teológica e psicanalítica. O esquecimento do corpo e a negação do afeto são apontados como geradores de uma espiritualidade paranoica e repressiva. A ênfase na escuta, proposta pelo Papa Francisco, destaca a importância de reconhecer a dimensão do afeto e situar o sujeito em suas dimensões reais, superando projeções vazias e racionalizações.
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"ENTRE O DIVINO E O NARCISISMO: REFLEXÕES SOBRE RELIGIÃO, AMOR E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS"

  • DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.6942409053

  • Palavras-chave: Narcisismo; Encontro; Amor; Gratuidade; Paradoxos.

  • Keywords: Narcisism; Meeting; Love; Gratitude; Paradoxes.

  • Abstract: The complex intersection between religion and narcissism reveals itself as a fertile field for understanding contemporary human dynamics. Christian philosopher Jean-Luc Marion challenges traditional conceptions by arguing that divine revelation occurs unconditionally and beyond any predictable logic. According to Marion, God gives without limits, inviting us to a personal and mysterious encounter with the divine. This view contrasts with the prevalent narcissistic perspective in today's society, where individuals are often guided by an incessant pursuit of self-affirmation, rampant consumerism, and immediate satisfaction. Pope Francis, adopting a pastoral approach, emphasizes the importance of God's mercy and unconditional love, manifested especially in forgiveness, compassion, and the pursuit of social justice. He calls on the faithful to be agents of this divine gratuitousness, extending it to others through gestures of generosity and solidarity. Religion, therefore, emerges as a call to promote a culture of encounter and welcome, challenging the narcissistic mindset that permeates contemporary society. Renowned psychoanalyst Christopher Lasch enters the discussion by analyzing narcissistic culture in modern society. He points to the emphasis on individuality and inflated self-esteem in consumerist society, resulting in superficial social relationships and an incessant pursuit of fleeting pleasures. Lasch's criticism highlights how narcissism weakens community bonds, compromising social solidarity and the formation of meaningful relationships. The following section explores the nuances of this issue, highlighting the influence of contemporary narcissism on human relationships, especially in the realm of love. Happiness, often pursued egocentrically, becomes the modern equivalent of salvation. The analysis of narcissism reveals the difficulty of building genuine bridges between the self and others, challenging Pope Francis's call for the construction of a "culture of encounter." The second part of the text delves into a deeper analysis, exploring the intersection between theology and psychoanalysis. It emphasizes the importance of subjectivity and listening in understanding the human condition, showing how externalization and aestheticization in postmodernity impact identity construction. The dialogue between theology and psychoanalysis emerges as a path to rescue the relational dimension, overcoming the polarization between interiority and exteriority. The reflection deepens the understanding of the body as a fundamental element in theological and psychoanalytic approaches. The forgetting of the body and the denial of affection are pointed out as generators of a paranoid and repressive spirituality. The emphasis on listening, proposed by Pope Francis, underscores the importance of recognizing the dimension of affection and situating the subject in their real dimensions, overcoming empty projections and rationalizations.

  • René Dentz
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