ENTRE O DESAMPARO JOVEM E O SAGRADO: O ESPECTRO DO GUERREIRO NOS RAPS DO GRUPO REALIDADE NEGRA DO QUILOMBO DO CAMPINHO DA INDEPENDÊNCIA
Este artigo apresenta reflexões sobre pesquisa de campo realizada de 2012 a 2015 com os rappers do Grupo Realidade Negra do Quilombo do Campinho da Independência, em Paraty-RJ, resultando na Dissertação Grupo Realidade Negra do Quilombo do Campinho da Independência: o rap na formação da juventude negra, apresentado à FEUSP em 2016. Os rappers foram parceiros nesta pesquisa que procurou investigar sua produção musical através da análise textual discursiva de suas canções e entrevistas sobre as doze canções de seu CD É prus guerreiro a missão, lançado em 2009 em show no Campinho para celebrar os dez anos de titulação de sua terra. No Presente artigo, para esboçarmos a análise de duas canções da banda, os raps Deus primeiro, depois os guerreiros e É prus guerreiro a missão, fizemos o exercício de reflexão exploratória do termo guerreiro neste contexto, o que compreendemos como similar ao guerreiro da epopeia, e não da tragédia, pois que busca restaurar a história e louvar sua comunidade e não cumprir o destino trágico estabelecido para o jovem negro. Compreendemos que realizam este movimento como um ritual em suas canções, através do qual realizam uma trajetória de emancipação da situação de impotência - tanto do desamparo inevitável do adolescer como diante do destino do povo negro - em direção à potência de mudar o seu destino. Nesta trajetória, fazem uso da prepotência de sua hybris heróica – do novo guerreiro rapper e do jovem – invocando a onipotência do sagrado na exterioridade para abençoar sua saga no resgate de um novo destino para o guerreiro e para o povo negro. Neste trânsito, a identidade negra busca ser compreendida para o empoderamento do povo negro que, no caso destes rappers, realizam sua epopeia sacralizando a saga do guerreiro rapper através da apropriação da história de seu povo.
ENTRE O DESAMPARO JOVEM E O SAGRADO: O ESPECTRO DO GUERREIRO NOS RAPS DO GRUPO REALIDADE NEGRA DO QUILOMBO DO CAMPINHO DA INDEPENDÊNCIA
-
DOI: 10.22533/at.ed.0842209065
-
Palavras-chave: guerreiro, identidade negra, juventude, desamparo, quilombo
-
Keywords: warrior, Black identity, youth, helplessness, quilombo
-
Abstract:
This article presents some thoughts after a field research from 2012 to 2015 with the rappers from Realidade Negra Band in the Quilombo do Campinho da Independência, Paraty-RJ. It resulted in the Dissertation called Grupo Realidade Negra do Quilombo do Campinho da Independência: o rap na formação da juventude negra presented to FEUSP in 2016. The rappers were partners in this research which aimed to investigate their musical production by means of their lyrics discourse analysis and interviews about the 12 (twelve) songs in their CD É prus guerreiro a missão, launched in 2009 to celebrate their 10-year-anniversary of obtaining their territory collective property. Here, in order to draft some analysis of two songs, the raps Deus primeiro, depois os guerreiros [God first and then the warriors] and É prus guerreiro a missão [The mission is for the warriors], we explored the term warrior in their context, which we understand it is referred as described in the classic epic writings, and not as in the tragedies, since it tries to restore their history and praise their community. They also avoid complying with the tragic end established to the Black youth. We understand they make a kind of ritual movement in their songs through which they perform a trajectory of emancipation from their situation of impotence of the unavoidable helplessness both due to the teenaging process and also before the Black people’s fate - towards the search of empowerment to change their fate. In this movement, they make use of the prepotence of their heroic hybris – presented in the new rapper warrior – by invoking the omnipotence of what is sacred – God – in order to bless their saga to rescue a new fate to the Black youth. Along with this trajectory, the Black identity aims to be understood in a new shape to empower the Black people who, in the case of these rappers, perform their epic saga sacralizing the rappers’ actions by embodying their people’s history.
-
Número de páginas: 24
- RENATA CÂMARA SPINELLI