O presente trabalho aborda as histórias de vida de três terecozeiras que também são devotas do Divino Espírito Santo, dona Helena, Maria Bonita e dona Ducarmo, além desse compartilhamento de experiências próximas dentro das duas religiões, compartilham memórias de vivências com suas entidades espirituais. O objetivo desse artigo é analisar essas trajetórias em uma perspectiva socioespacial, a fim de compreender como a memória dessas mulheres se relacionam e vão compondo memórias e sentidos onde o Terecô e o Divino se mesclam. As trajetórias socioespaciais aqui usadas como categoria de análise buscam “experiências dentro de uma temporalidade e uma espacialidade que não possuem uma constituição linear ou contínua” (CIRQUEIRA, 2010; SANTOS, 2016). Este trabalho é fruto de pesquisa de campo que começou em 2010 e se aprofundou em 2020-2022 por meio de conversas e entrevistas com essas mulheres em suas casas, dentro dos terreiros e nas festas do Divino. Observando as trajetórias das nossas interlocutoras, podemos observar a luta por melhores condições econômicas na fronteira Amazônica e dizer que suas escolhas foram negociadas com suas famílias, com sacerdotes católicos, com poderes políticos e econômicos dos lugares em que viveram e com as próprias entidades, que também têm suas trajetórias e temporalidades, e nessa relação elas foram articulando o Terecô e a devoção ao Divino em práticas e representações adequadas às circunstâncias específicas pelas quais passavam.