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capa do ebook Ventos da madrugada e outras poesias

Ventos da madrugada e outras poesias

Publicado em 31 de março de 2023.

Divido minhas poesias em fases atreladas aos distintos
momentos de minha educação formal. Assim, a primeira delas
começou aos 11 anos de idade e durou até o final do ensino médio,
quando tinha 17 anos. Ela foi realizada em três cidades: Valinhos
e Campinas, no estado de Paulo, e Guaxupé e Muzambinho, em
Minas Gerais. A segunda fase iniciou na vida adulta, dos 18 aos
21 anos, quando realizei meu curso universitário, na cidade de
Campinas. A terceira principiou durante o curso de mestrado, dos
22 aos 25 anos, nas cidades de Campinas e São Paulo. A última
encetou dos 26 aos 28 anos, quando ingressava no doutorado na
USP, também em Campinas e São Paulo, e que abandonei um
ano depois para fazer outro curso, só que no exterior. Considero
que minha mudança para o México em 2003, para cursar o novo
doutorado, depois do abandono do curso em São Paulo, encerrou
minha inspiração para a escrita, aos 28 anos de idade, motivo pelo
qual ainda não sei explicar bem. Simplesmente parei de escrever.
O México foi meu sonho de vida por muito tempo. Achei que essa
sensação nunca passaria, mas passou. Escrevi alguns poemas
depois de ir para o México, mas não com a mesma efusão de
outrora.
Como dissera, escrevi minha primeira poesia aos 11 anos
de idade, quando morava em uma chácara que hoje não existe
mais, na cidade de Valinhos, São Paulo. Eram épocas difíceis, de
reconstrução econômica familiar após tomadas de decisões ruins
na vida. Meu pai trabalhava como agricultor em terra de terceiros.
A produção era dividida entre ambas as partes. No entanto, a
divisão era muito desigual, em que o dono da terra abocanhava
toda a renda gerada, uma vez que cedia quase todos os meios de
produção para o trabalhador.
Eu não gostava da terra que dava frutos. Eu gostava mesmo
era do céu e das estrelas porque atiçavam minha imaginação. Eu
gostava de criar mundos imaginários, de voar céus mesmo estando
em terras. De navegar os rios da mente.
Desse tempo, as minhas melhores memórias são as
brincadeiras que eu criava ou que fazia com minhas irmãs ou com
alguns poucos amigos que tinha na chácara onde vivíamos. Cercado
por uma natureza aconchegante, minhas brincadeiras aconteciam,
em geral, em meio aos limoeiros, de onde várias aranhas se
desprendiam em suas eficientes teias; junto à plantação de rosas ou
ainda entre os laranjais onde, vira e mexe, minha mãe se vestia de
fantasma para nos assustar.
Insetos, eram de várias as espécies aqueles que existiam no
meu habitat. Gostava de observá-los. Foi nessa chácara onde vi
no cintilante azul de uma noite estrelada a passagem do cometa
Halley, em 1986, e que, provavelmente, não verei a sua próxima
entrada na Terra; dessa vez a passagem terá sido feita por mim.
Desse encontro, nasceu minha paixão pelo céu, pelas estrelas,
pelos planetas. Com os poucos recursos financeiros, aventuravame
em leituras de astronomia em livrinhos que acompanhavam
chocolates. Comia os doces, claro, e como gostava, mas minha
alimentação principal era o saber, o conhecimento, desse que
herdei o meu futuro sobreviver. Nessa época, Plutão era ainda um
planeta, o mais distante da Terra. Depois disso, quantas luas mais
foram descobertas entre os anéis de Saturno ou ainda orbitando
Júpiter?
Foi ainda nessa época que plantei minha primeira árvore,
ganhada num sorteio escolar. Meu pai, destro agricultor, plantou-a.
Não a vi crescer, pois nos mudamos logo depois para outra cidade,
em outro estado. Soube depois que a árvore cresceu, frondosa,
deu luz, frutos, deixou suas flores e folhas espalhadas pela terra.
Queria tanto tê-la visto tão exuberante!
E eu tinha um pintinho de estimação, o Amarelinho, de quem
cuidei, cresceu, virou galo e adorava bicar as pessoas, quando não
poucas vezes, machucava a ave nossas pernas, de onde escorria
o sangue. Cresceu tanto, criou esporões tão grandes e afiados, que
Amarelinho ficou alijado de nós, por nossa própria segurança.
Fiz essa pequena digressão porque queria registrar essa
memória da fase inicial da escrita das poesias, devido a que o fiz
de modo incompleto no primeiro livro. Eu penso que esse contexto
todo possibilitou e me sensibilizou para a escrita das poesias: a
natureza, o céu, a dor, a tristeza, e a esperança, sobretudo.
Retomando a história familiar, nos mudamos para Guaxupé,
Minas Gerais, após os rumos em Valinhos darem errado. Morei lá
dos 13 aos 15 anos. Escrevi muitas poesias nessa primeira fase,
mas penso que nunca as publicarei por considerá-las imaturas.
Eu nunca gostei de lá. Novamente uma chácara, mas com menos
verde, menos vida, menos gente, menos tudo. Algumas memórias
dessa época são muito fortes: o desespero do meu pai depois de
uma forte chuva que destruiu toda a plantação a que ele duramente
se dedicou; de quando eu e minhas irmãs andávamos quilômetros
para chegar à escola atravessando lugares solitários em meio à
mata onde por milagre nunca nada nos aconteceu; dos escorpiões
que proliferavam por todos os lados (cozinha, quarto, parede da
sala...), pois a chácara ficava ao lado de uma velha ferrovia que
acumulava dejetos; das mãos esfoladas quando da colheita do
quiabo. Acho que minha mãe gostava de lá porque íamos muito a
Muzambinho, onde minha avó materna morava. De Muzambinho
eu gostava mais porque lá tinha um primo de quem gostava muito,
enfim, a família de minha mãe lá estava. A sensação de segurança
era maior.
Nessa época minha imaginação estava latente. Foi nesse
período que, estimulado pela professora de português, que nos
obrigava a ler um livro semanalmente, e apresentá-lo para a sala,
conheci uma biblioteca. E como a frequentei! Lá minha imaginação
eram rei e rainha. Aos 12 anos já tinha lido mais de 50 livros; era
apaixonado pela coleção Goiabinha, de Ganymedes José. Que
escola hoje, pública ou privada, faz o aluno ler quatro livros por
mês? Muito obrigado, querida professora Cecília!
Essa primeira fase da escrita durou até os 17 anos, quando
terminei o ensino médio, de volta a Campinas. A vida continuou
dura e pesada. Sem debruçar-me mais sobre os detalhes de minha
vida, a segunda fase de escrita começa quando entrei na faculdade
até os 21 anos de idade, quando terminei o curso universitário. As
poesias dessa fase foram publicadas no primeiro livro Eles dançam
sozinhos e outras poesias.
As poesias que o leitor encontrará nesse livro, Ventos da
madrugada e outras poesias, fazem parte da terceira fase de escrita,
durante meu curso de mestrado, em São Paulo. São 52 poemas,
dos quais mais gosto e considero que são os mais maduros. A
poesia que dá título ao livro é uma das minhas preferidas e reflete
o momento em que escrevi a maioria delas, durante a madrugada.
A quarta e última fase da escrita foi rápida e abrupta. Dela
falarei no próximo livro, pois ainda pretendo publicar estas poesias,
fechando a trilogia.
Este livro está sendo publicado bem após a um evento
traumático que passei: um erro médico que quase me tirou a vida.
Ensejo que, através desta escrita, ofício a que me dedico, as
memórias do passado aqui resgatadas sejam um alento para as
vivências do presente, mais reflexivas, tranquilas e de paz.
Espero que gostem.
Boa leitura!


O autor
São Luís, junho de 2022, durante as festas juninas e
Campinas, fevereiro de 2023.

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Ventos da madrugada e outras poesias

  • DOI: 10.22533/at.ed.052232803

  • ISBN: 978-65-258-1205-2

  • Palavras-chave: Poesias

  • Ano: 2023

  • Número de páginas: 80

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