Publicado em 24 de julho de 2025.

Nas entranhas da Amazônia, onde os povos originários tecem cestos com saberes ancestrais, a educação científica se entrelaça como fibras de conhecimento. Professores-cientistas, caboclos da investigação, moldam mentes como artesãos, transformando curiosidade em descoberta. Nessa floresta de ideias, cada capítulo é uma haste desse cesto de saberes, tecido no pulsar da ciência que brota da escola pública, ecoando o futuro da Amazônia.
O livro, “Tecendo Saberes na Amazônia - experiências com projetos PCE em Tefé no Amazonas”, reúne artigos científicos resultantes das pesquisas realizadas no âmbito do Programa Ciência na Escola (PCE), Edital nº 002/2024, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e entrelaça estudos multidisciplinares com foco na educação científica e na promoção do conhecimento local como ferramenta de transformação social, cujas pesquisas foram desenvolvidas na Escola Estadual Deputado Armando de Souza Mendes, em Tefé (AM).
No capítulo de abertura, “O Percurso Histórico do PCE no Amazonas e em Tefé: Principais Marcos e Contribuições”, contextualiza a importância da pesquisa científica não apenas no âmbito acadêmico, mas como instrumento de transformação social. A pesquisa científica, como destaca Spaller (2022), é fundamental para a produção de conhecimentos sólidos e a solução de problemas que impactam a sociedade.
No contexto da Educação Básica, programas como o PCE têm sido essenciais para promover a alfabetização científica, incentivando a investigação e a inovação nas escolas. Este capítulo investiga as pesquisas realizadas no município de Tefé (AM) ao longo de 20 anos do PCE, destacando o quantitativo de estudos por área de conhecimento e seu impacto no ensino e na aprendizagem.
O segundo capítulo, intitulado “Material Educativo como Forma de Promover a Conservação da Fauna Amazônica Ameaçada de Extinção”, aborda a importância de integrar o tema da preservação da biodiversidade ao currículo escolar, alinhandose aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como Educação de Qualidade (ODS 4), Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS 11), Vida debaixo d’água (ODS 14) e Vida sobre a terra (ODS 15). A pesquisa propõe a utilização de materiais educativos-informativos para conscientizar os estudantes sobre as espécies ameaçadas de extinção, estimulando o pensamento crítico e o senso de pertencimento à região.
O terceiro capítulo, “Herbário Escolar com Plantas Medicinais”, investiga o
uso de plantas medicinais no contexto escolar, integrando o conhecimento popular
ao científico. Por meio da construção de um herbário escolar, o estudo promove o
aprendizado sobre as características morfológicas, nomes populares e científicos, e
aplicações terapêuticas das plantas. A pesquisa foi realizada com alunos do 7º e 8º
ano do Ensino Fundamental II, e utilizou espécies coletadas na horta da escola e no
quintal ecológico do Bairro Jerusalém. O herbário escolar se apresenta como uma
ferramenta inovadora, que valoriza o saber tradicional e facilita a aprendizagem
contextualizada e multidisciplinar.
O quarto capítulo, “Explorando Áreas de Retângulos por Meio de Investigações Geométricas”, explora o uso de tarefas investigativas para o ensino de geometria, com foco na comparação de áreas de retângulos. A pesquisa, realizada com alunos do 8º ano do Ensino Fundamental, demonstrou que as investigações geométricas favorecem a aprendizagem, estimulando a formulação, teste e validação de conjecturas. Os resultados revelaram que os alunos descobriram, por meio de investigações, que ao aumentar 10% a base e diminuir 10% a altura de um retângulo, a área do novo retângulo será sempre 1% menor. Essa abordagem metodológica mostrou-se eficaz para o desenvolvimento do raciocínio matemático e da visualização espacial.
O quinto capítulo, “O Estudo da Gramática na Linguagem da Poesia”, propõe uma metodologia inovadora para o ensino da gramática por meio da linguagem poética. A pesquisa, realizada com 27 estudantes do 9º ano, buscou responder à pergunta: como a leitura e escrita de poemas podem contribuir no processo de ensino-aprendizagem das classes gramaticais? Os resultados mostraram que, após uma intervenção pedagógica baseada na leitura e produção de poemas, os estudantes não apenas compreenderam e reconheceram as classes gramaticais, como também aplicaram esse conhecimento na composição de rimas ricas em poemas autorais.
O sexto capítulo, “Versos da Amazônia: Explorando a Identidade Juvenil Através da Poesia, em Alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental”, investiga como a poesia pode ser uma ferramenta para a afirmação da identidade cultural de jovens estudantes em um contexto de globalização e massificação cultural. A pesquisa, realizada com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, utilizou a leitura e produção de poemas com temáticas amazônicas para promover o reconhecimento e a valorização dos saberes locais. Os resultados demonstraram que a poesia contribuiu significativamente para a formação identitária dos alunos, que expressaram orgulho e conexão com sua cultura regional.
O sétimo capítulo, “Água e Farinha no Ar: Comunicação e Interdisciplinaridade nas Batidas da Samaúma em Tefé/AM”, explorou o impacto do movimento de rádio livre na cidade de Tefé (AM), com foco no programa Nas Batidas da Samaúma, produzido por estudantes secundaristas do bairro do Abial. A pesquisa, baseada na história oral, revela como a Rádio Xibé, criada em 2006, se tornou um espaço de comunicação livre e interdisciplinar, reunindo movimentos sociais e grupos marginalizados. O programa transmitido pela Rádio Xibé, foi um exemplo de como a rádio livre pode promover a emancipação intelectual e a participação cidadã, especialmente entre jovens de comunidades menos favorecidas.
Assim, cada capítulo deste livro é um fio que se entrelaça no grande cesto do saber amazônico, tecido pelas mãos de professores-cientistas e estudantes bolsistas ICT/JR que transformam curiosidade em descoberta, refletindo o compromisso do PCE em fomentar uma educação científica de qualidade com o apoio da FAPEAM. Da conservação da fauna ameaçada ao herbário escolar que une ciência e tradição, das investigações geométricas que desvendam padrões matemáticos à poesia que revela a gramática como arte, e dos versos que afirmam identidades juvenis às ondas da rádio livre que ecoam vozes marginalizadas, este livro celebra a ciência como um ato de resistência e pertencimento. Que estas experiências inspirem novas pesquisas, ampliem horizontes e fortaleçam a alfabetização científica, formando gerações capazes de ler o mundo e transformá-lo. Este livro não é apenas um registro, mas um convite: que a Amazônia continue a ser um laboratório vivo de saberes, onde a educação científica floresça como a própria floresta, diversa, resiliente e cheia de vida.

Os organizadores