Publicado em 16 de maio de 2023.

As especificidades linguísticas e culturais, a diversidade étnica, a neurodiversidade e toda multiplicidade que caracteriza os seres humanos pulsam incessantemente em instituições escolares e no cotidiano de seus educadores. Dora Vieira da Costa é uma dessas educadoras cujo olhar atento e sensibilidade aguçada se destacam, cujo compromisso com a sua própria formação e cujo investimento em pesquisa dirigem-se àqueles que tanto carecem de um devido e merecido atendimento educacional. O seu encontro com Viviane Lione, sua
atual orientadora e parceira de pesquisa, é uma daquelas coisas que torcemos todos os dias para acontecer. Viviane, por sua vez, professora, pesquisadora, mãe de uma criança com TEA, é uma dessas educadoras cuja experiência de vida e reflexão profissional são inseparáveis. Com dedicação e compromisso, vem contribuindo decisivamente para formar educadores mais sensíveis, mais conscientes de sua atuação e, portanto, também mais qualificados para não só atuar nos processos de escolarização quanto para se engajar em intervenções
sociais formadoras e inclusivas. Nesse encontro e parceria de Dora e Viviane, ganhamos todos nós.
Em “Práticas para Mediação Pedagógica do aluno Surdo-autista em perspectiva bilíngue de escolarização", Dora e Viviane fornecem aos seus leitores, aos colegas de profissão e aos familiares de Surdos-autistas, de maneira
objetiva e bilíngue, informações, materiais didáticos e práticas educativas que exemplificam o atendimento e a compreensão das especificidades educacionais desse público.
Esta é uma leitura essencial para todos os licenciandos, importante para a formação continuada dos professores e fundamentais para familiares de Surdosautistas. Ao fim deste livro, tenho certeza, o leitor se sentirá mais capaz, mais disposto e consciente da importância da formação/informação para atender/entender o Surdo-autista.
Como leitor privilegiado por ter sido um dos primeiros a ler este livro, posso prever: você leitor corre um sério risco de chegar ao fim do livro com um sorriso no rosto, com o peito insuflado de esperança, com a cabeça cheia de
ideias e com a sensação de que pode fazer muito mais pelo outro e pela sua própria formação.

Maurício Cruz
Líder do Grupo de Pesquisa Formação de Professores (de) Surdos no CNPq,
junto com a Prof. Dr.ª Aline Lage, Professor Associado do Departamento de Ensino
Superior do INES, Doutorado em Educação (UFF), Mestrado em Educação (UFF) e
Graduado em Pedagogia (UERJ).

APRESENTAÇÃO
Este livro é o produto da pesquisa do Curso de Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão da UFF (CMPDI-UFF) da mestranda Dora Vieira da Costa, orientado pela Professora Dra. Viviane Lione (FF-UFRJ/CMPDI-UFF).
O estudo propôs a investigação sobre as práticas pedagógicas na escolarização de alunos Surdos-autistas em uma instituição bilíngue (Português/Libras), sendo resultado da pesquisa o presente livro.
A escolarização de estudantes Público-alvo da Educação Especial (PEE), em geral, é percebida como complexa e desafiante, exigindo esforço não só dos responsáveis pela mediação pedagógica desses sujeitos aprendentes, mas também das instituições que os recebem e empenho da sociedade em efetivar a manutenção das Políticas Públicas para a garantia da equidade social e educacional.
No caso de estudantes Surdos, é essencial que adquiram uma língua que favoreça o seu desenvolvimento cognitivo e sua especificidade linguística gesto/visual, como a Língua Brasileira de Sinais (Libras), pressuposto defendido por Vygotsky (1998), Skiliar (2013) e Campello (2018). Por sua vez, de acordo com Cruz, (2017), Nascimento (2016), Ortega (2009), Grandin e Panek (2015), para os estudantes com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é necessário entender, conhecer e respeitar a sua neurodiversidade para propiciar uma
aprendizagem efetiva. Dessa maneira, quando nos remetemos a estudantes com as duas especificidades associadas, é importante que se discuta a caracterização da existência desses alunos nas escolas, visto que são incluídos como alunos com Múltiplas Deficiências. Acreditamos que isso não colabora para a sua visibilidade e não subsidia as possibilidades de aprendizagens significativas para esses sujeitos.
Para ratificar o respeito à identidade já defendida pelos próprios Surdos e pelo movimento de neurodiversidade dos grupos de pessoas com TEA, adotamos a nomenclatura “Surdo-autista” com “S” maiúsculo e hífen, para mostrar que se trata de um sujeito único, que necessita de intervenções específicas. O fato de Surdos-autistas não serem identificados nas escolas, mesmo que possuam laudo, resulta na escassez de referenciais teóricos sobre o tema. Por termos a grata experiência de trabalhar com estudantes Público-alvo da Educação Especial (PEE), sendo no Atendimento Educacional Especializado em Escola Regular ou em Escola Especializada, o caminho percorrido pelas pesquisadoras foi de reinventar a prática a partir das experiências e investigações
das potencialidades de cada aluno, sujeitos que muitas vezes são vistos como incapazes de aprender. Desta forma, buscamos apresentar práticas vivenciadas pela pesquisadora, além de referenciais teóricos baseados em evidências científicas, para apoiar o estudo.
O livro apresenta-se no formato PDF e possui códigos QR que serão direcionados à interpretação em Libras dos textos principais.
Não se pretende com este material oferecer uma forma única para a mediação pedagógica do/a estudante Surdo-autista, pois compreendemos que cada estudante possui suas características de aprendizagem particulares. Acreditamos que é na prática, na troca e na experiência diária nos espaços escolares que o mediador pedagógico perceberá as necessidades individuais para a efetiva aprendizagem.
Esperamos contribuir, assim, para a escolarização dos educandos Surdosautistas ao apresentar a proposta do Livro composto por algumas sugestões de estratégias pedagógicas para profissionais que atendam a esse público em sua especificidade de ensino.