Palavras que voam: Uma coletânea de textos e poesias de autores Pedesserrenses
Publicado em 10 de maio de 2021.
Queria dizer não. Mas, desta vez, elas gritaram implorando para voar. Logo eu, a garota das palavras presas, ser convidada para prefaciar este livro? Foi quase uma semana me esquivando do papel em branco. Ele me causa medo. Relutei o quanto pude; porém, quando comecei a ler o primeiro texto, entendi que não sou dona das palavras. Elas têm asas e insistem em voar. Deixei-as, então, seguirem livremente.
Não sei por quê, naquele dia, estava meio mexida. Na leitura do segundo texto, eu chorei e continuei a chorar com a história de Alice. Como o machismo dói. Ele mata! Por pouco, eu também morri... E comigo foram as palavras, perversas palavras. Elas também têm o poder de matar. Estas, sim, deveriam ser aprisionadas. Ninguém as merece. Ainda chorando, li o texto seguinte e o recado foi para mim: “Pare de se debulhar em lágrimas! Pare de se debulhar em lágrimas! ” Parei! E agora começo a escrever...
Falarei, entretanto, somente das palavras livres. Como não as amar? Elas voam bem de leve e pousam dentro da gente, mas escolhem não fazer ninho, porque precisam alçar voos ainda maiores. Então, decidem ser livros. E é ali a sua mais linda morada. Nos livros, as palavras viram pássaros, ganham vida e voam em bando, criando resistência para percorrer distâncias longas, a eternidade, eu diria. Cada página é um horizonte que permite, a quem se destina ler, voar junto para além do céu. “Ai, palavras, ai palavras, que estranha potência a vossa! ” – Assim diz Cecília Meireles.
Que estranha potência há nas palavras destes escritores pedesserrenses! – Assim digo eu. Elas falam de amor, de lembranças, de sonhos, de encontros, de cura, de esperança. Elas gritam por justiça, por espaço, por respeito, por aceitação. Elas gemem de dor, de saudade, de desejos. Elas silenciam o preconceito, o machismo, a intolerância. Elas dizem de si mesmas e nos mostram o seu poder. Quanto poder! E quão belas são as palavras reunidas neste livro, uma coletânea de textos (em prosa e em versos) que representam as diferentes vozes da nossa gente, que expressam os nossos lamentos, as nossas alegrias e os nossos anseios.
Sim, meus queridos autores, as vossas palavras já iniciaram os seus voos e, por alguns segundos, fizeram em mim abrigo, mas aqui não quiseram permanecer. Partiram... Antes, porém, me convidaram a ser também poesia, a voar fora da asa, como ensina Manoel de Barros. Decidi, então, libertar as palavras que habitam em mim. Prometi não mais ser silêncio quando tenho tanto a dizer. Entendi que devo ocupar o espaço que, por receio, estive sempre a lacunar: o meu lugar de fala. Agora a minha alma poeta já sente o cheiro de liberdade. Sou leitora/escritora das Palavras que voam.
Rita Suzana Oliveira
Numa tarde, pandêmica, de 2021
Palavras que voam: Uma coletânea de textos e poesias de autores Pedesserrenses
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DOI: 10.22533/at.ed.497211005
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ISBN: 978-65-5983-049-7
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Palavras-chave: 1. Coletânea de textos. 2. Poesia. 3. Literatura brasileira. I. Santos, Adna dos (Organizadora). II. Jesus, Marina de (Organizadora). III. Falconeri, Marina (Organizadora). IV. Título.
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Ano: 2021