Publicado em  14 de janeiro de 2022.

Ao prefaciar este livro, remeto-me inicialmente à autora, minha ex-aluna no Programa de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo do DAU/UFV. Geógrafa sensível aos processos de produção do espaço urbano, sua inquietude diante da forma como a desigualdade social está impressa na paisagem das cidades foi se configurando em temática e objeto de pesquisa científica.

As “paisagens autoconstruídas” transformaram-se, portanto, no grande tema de interesse da autora. Tal binômio, instigante e sugestivo, invoca imagens e sentidos que conformam uma visão da sociedade que nos cerca: a paisagem, como processo social dinâmico que vai se configurando no tempo e no espaço, juntamente com a autoconstrução, que se apresenta como a arquitetura do possível.  Aqui se tangenciam as áreas da Geografia, da Arquitetura e do Urbanismo. 

O acesso à moradia nas cidades pela população de menor renda tem encontrado inúmeros obstáculos desde o começo do século XX, quando se intensifica o processo de urbanização no Brasil. Políticas habitacionais insuficientes e, muitas vezes, equivocadas, aliadas a outros processos sociais e às dificuldades financeiras das classes populares, têm perpetuado o crescimento das nossas cidades por meio da autoconstrução. Esse processo ocorre tanto nos bairros regulares quanto nos assentamentos clandestinos e nas favelas, de forma precária e sem qualquer tipo de assistência técnica. Compartilho, portanto, com a autora, a convicção de que a Assistência Técnica Gratuita às famílias de baixa renda constitui um passo importante para a concretização do direito à moradia digna no país, razão pela qual conduzi por 10 anos o projeto de extensão universitária denominado “Projeto Habitat”.  

Para além dos nossos interesses mútuos, destaco a qualidade da pesquisa que deu origem à obra, bem como a clareza com que a autora articula os três temas, o que torna sua leitura obrigatória para aqueles que se interessam pelas cidades e seus processos de transformação. 

Profa. Dra. Aline Werneck Barbosa de Carvalho 

Viçosa, agosto de 2021.