O lixão de Brasília e as sérias violações de direitos humanos
Publicado em 17 de janeiro de 2023.
O lixão da Estrutural é o segundo maior do planeta e o maior da América Latina em
extensão, e funcionou, durante quase quarenta anos, em uma região periférica de Brasília,
a aproximadamente 20 quilômetros da região central.
Naquele espaço, a comunidade local presenciou direta e indiretamente centenas
de cenários dos horrores, desde a morte de crianças que brincavam pegando carona nas
traseiras de caminhões carregados de material e eram pisoteadas, vindo a óbito, até restos
mortais de adultos e fetos.
O gigante latino trouxe dor e sofrimento a muitos moradores da cidade Estrutural.
Não posso esquecer aqui, também, o mau cheiro insuportável. Lembro-me de uma época
em que, por volta da meia noite em tempos chuvosos, circulava o cheiro de decomposição
de lixo orgânico. O ar contaminado prejudicava a respiração dos adultos. Agora pensem:
como as crianças daquela época conseguiam respirar? O mau cheiro era imediatamente
notado, em sua maioria por quem morava em prédios. Se o odor exalado pelo lixão,
resultante da decomposição do material, trouxe prejuízo mental a alguém da comunidade
nos dias atuais, não sei. Mas é isso que queremos saber.
Não posso me esquecer, também, da quantidade de moscas na hora do almoço.
Os insetos que se alimentavam da enorme quantidade de comida que encontravam no
lixão eram os mesmos que entravam nas residências e compartilhavam o espaço com os
moradores.
Durante anos perdurou a situação degradante de quem vivia às margens do gigante
latino. Desde as brigas e ameaças de quem trabalhava na coleta seletiva de material
reciclável dentro da área do lixão, por algum material, até aqueles que chegavam e
depositavam do nosso lado tudo o que Brasília inteira produzia, todos têm alguma coisa
para contar. Naquela época governantes em Brasília tentavam a todo custo retirar os
moradores do local, por ser uma invasão. O uso da força não foi poupado, mas falaremos
sobre isso em outros momentos. Nosso interesse, aqui, é exatamente entender os efeitos
dramáticos da queima do lixão para a comunidade local, tentar dar visibilidade ao problema
e chamar a atenção das autoridades.
Mas calma aí: com toda monstruosidade que trouxe o amontoado de entulhos,
muita gente se beneficiou com o trabalho prestado à coleta seletiva? Sim! Muita gente se
beneficiou. Mas como ocorreu isso, então?
Os catadores, apesar das precariedades, conseguiam um dinheiro selecionando
material reciclável. Assim, pagavam aluguel, compravam roupas e levavam comida para
dentro de casa. Graças ao trabalho também conseguiam comprar material para que os
filhos estudassem durante o ano letivo. Enquanto os pais trabalhavam na coleta, os filhos
estavam nas unidades de ensino, que na época eram feitas de madeira, e assim a vida
corria seu curso, como um rio.
Mas a centralidade de nossa conversa é se, de fato, houve prejuízo mental à
comunidade resultante da queima do lixão, e trataremos disso com cuidado durante toda
pesquisa.
O lixão de Brasília e as sérias violações de direitos humanos
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DOI: 10.22533/at.ed.079231701
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ISBN: 978-65-258-0807-9
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Palavras-chave: 1. Direitos humanos. I. Natalha, Claudinei Silva Nascimento. II. Título.
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Ano: 2023
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Número de páginas: 61