Ebook - O espiritismo em Maringá: 1940 – 1960Atena Editora

E-book

1. Espiritismo. I. Pereira, Giovanna Tolomeotti. II. Título.

Livros
capa do ebook O espiritismo em Maringá: 1940 – 1960

O espiritismo em Maringá: 1940 – 1960

Publicado em 31 de agosto de 2023.

Seria uma falsificação histórica de minha parte dizer que este livro surgiu
apenas como resultado da minha experiência com pesquisa científica e que ele
não tem a ver, na verdade, com minha trajetória pessoal. Como este não é o caso,
devo dizer que esse tema sempre esteve presente na minha vida, por mais que eu
o tenha negado. Como diz o velho ditado, as vezes encontramos nosso destino no
caminho que tomamos para evitá-lo.
Ingressei no curso de história da Universidade Estadual de Maringá em
março de 2018. Ao decorrer daquele ano, enquanto aprendia o que era história,
pensei ter entendido qual era o meu o meu propósito no curso. Imersa no contexto
político que culminou na vitória eleitoral de um projeto nefasto para o país, acreditei
que minha função enquanto historiadora seria elucidar os problemas da sociedade
e propor, com os aprendizados da história, as melhores formas de condução da
realidade. Para isso, claro, só poderia falar de política.
Assim como o personagem de Machado de Assis, Brás Cubas, eu fui tomada
por uma “ideia fixa”: passei os dois primeiros anos da graduação fazendo cursos de
formação política e emprestando livros da Biblioteca Central da Universidade que
versavam sobre os temas que eu tinha interesse. Minha expectativa era descobrir
uma fonte histórica com a qual eu me sentisse relativamente confortável em trabalhar.
Passados dois anos com essa “ideia fixa”, recebi um convite de um colega
para visitar o acervo documental que ficava localizado no Laboratório de Arqueologia,
Etnologia e Etno-História da UEM. Lá me deparei com diversos inquéritos criminais,
e a possibilidade de trabalhar e manusear aqueles arquivos me encantou. A partir
disso, minha ideia fixa havia se transformado: eu pretendia realizar um projeto de
organização do acervo, que ao mesmo tempo em que me renderia um PIC (Projeto
de Iniciação Científica) para o currículo, me possibilitaria descobrir, naqueles
documentos, fontes que fossem de encontro com os temas para os quais eu estava
inclinada.
Adianto que nem de longe foi o que aconteceu. Como descreve Marx, se
a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária.
O trabalho no acervo me levou a descoberta de fontes inéditas sobre o quadro
religioso local.
Esse quadro religioso, em especial o das décadas de 1930, 1940 e 1950,
como será exposto ao longo do livro, foi descrito pela historiografia e pelos trabalhos
memorialistas como unicamente católico. Aconteceu que, com minhas próprias
mãos, descobri uma comunidade espírita que segundo os inquéritos contava com
mais de 600 adeptos a época. E mais: essa comunidade espírita manteve um
hospital, durante pelo menos 3 décadas, que prestava assistência a região anos
antes da própria fundação da cidade de Maringá. Com isso, constatei que não foram
apenas as pessoas que tiveram sua história apagada, mas o próprio campo religioso
da região, que diferente das narrativas vigentes, foi diverso desde seus primórdios.
Dessa forma, minha ideia fixa foi aos poucos se desafixando. Entrei para
o grupo de pesquisa em História das Crenças e das Ideias Religiosas (HCIR/
UEM), que em linhas gerais, atua no campo da história cultural. Passei tanto tempo
idealizando um tema político, que no começo de minha pesquisa foi desafiador me
abrir para os horizontes da história das religiões. Tive que aceitar o fato de que para
analisar minhas fontes, eu precisaria necessariamente entender antes de tudo o que
era o espiritismo. Para além da doutrina, tive que aprender sobre o que essa religião
significou para o país e quais intercursos ficaram registrados em seu caminho.
Ao decorrer da primeira iniciação científica, me movimentei no sentido de
aprender mais sobre história cultural, história das religiões e mais especificamente
do espiritismo. Me dediquei as obras que ensinavam como lidar com processoscrime,
busquei por trabalhos que me possibilitassem olhar para aquelas fontes com
desconfiança, entendendo que seu propósito, enquanto inquérito, era justamente a
produção de uma verdade jurídica.
Já na segunda pesquisa, precisei admitir que meus recortes necessitavam
de uma história mais local. Para isso fui estudar Paraná e principalmente o norte
do Estado. Revisitei toda a bibliografia memorialista da região, revisitei também as
historiográficas. De fato, nenhuma obra falava sobre o tema.
Caminhei, assim, descrevendo os processos que eu havia encontrado e
os situando dentro de uma história tipicamente paranaense. Entretanto, para isso,
outras questões surgiram: mesmo dentro do Paraná, meu recorte temporal e espacial
não se encaixava nas discussões existentes. Eu falava de uma região que há pouco
tempo foi colonizada, não falava de Curitiba que já no século XIX possuía estruturas
de uma grande cidade. Eu falava de um local onde não existiam hospitais, não de
regiões onde já havia institutos e associações médicas. Com isso, me apropriando
do que era possível e encontrando na realidade das minhas fontes possibilidades
diversas, eu concluí a segunda pesquisa descrevendo as especificidades do meu
material dentro de seu tempo e espaço.
Por fim, o tema rendeu tanto assunto que na data em que escrevo este
prefácio desenvolvo também uma dissertação de mestrado. Nela, avanço com as
memórias regionais sobre a presença desse hospital e sigo explorando a riqueza do
material processual.
Meu intuito, com tudo isso e até aqui, se tornou diferente daquele da ideia
fixa. Não são apenas os temas políticos que transformam a realidade. Que bom
que eu me dei conta disso. Hoje, posso contribuir, mesmo que minimamente, para
a história local. Para a construção de uma narrativa que não seja tão excludente e
restrita. Que abarque as pessoas, seus anseios e suas expectativas.

Ler mais

O espiritismo em Maringá: 1940 – 1960

  • DOI: 10.22533/at.ed.739231807

  • ISBN: 978-65-258-1673-9

  • Palavras-chave: 1. Espiritismo. I. Pereira, Giovanna Tolomeotti. II. Título.

  • Ano: 2023

  • Número de páginas: 51

Fale conosco Whatsapp