Publicado em 25 de abril de 2024.

O Cortiço é uma obra literária bem conhecida do público e dos acadêmicos. É cobrada nos vestibulares brasileiros atualmente e também há um filme baseado no livro. A maior parte dos estudos sobre o romance concentram-se na área dos estudos literários. A proposta deste livre consiste em uma reflexão sobre a relação dialética entre o conhecimento histórico e a manifestação literária brasileira, especialmente, a partir da obra canonizada de Aluísio de Azevedo, O Cortiço, publicada em 1890 pela primeira vez. O objeto de pesquisa centra-se na habitação coletiva e suas múltiplas facetas. Nesse sentido, a principal questão a ser resolvida envolve a compreensão da temporalidade e da espacialidade inerente à vida social, representada pelo romance. Nosso objetivo, portanto, é mapear as trajetórias das personagens literárias e os conflitos estabelecidos entre elas, tendo por eixo de interpretação o espaço urbano do cortiço carioca.

A metodologia estrutura-se por meio de alguns eixos. A história social a partir de Chalhoub, que circunscreve a posição social das habitações coletivas e seus moradores na capital do país (Rio de Janeiro); a história das ideias por meio de uma intersecção entre Lacapra e Koselleck que permite à crítica da fonte, o repensar sobre o cânone e o impacto da materialidade do mundo na estrutura das obras; a história da literatura/crítica literária com ênfase no pensamento de Luís A. Fischer e Regina Dalacastagnè, preocupados com as respostas da literatura às pressões da história na atuação dos indivíduos. Nessa perspectiva, pode-se refletir sobre a estruturação da narrativa literária por intermédio da interpretação de suas personagens, considerando a tensão entre mundo social que permeia, pressiona os sujeitos históricos e uma literatura real-naturalista que excede, hiperboliza, caricatura, observa, critica, relacionando-se com a realidade cultural de onde emerge.