Ebook - Linguagem, literatura e educação: discursos e complexidadeAtena Editora

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1. Linguagem. 2. Literatura. 3. Educação. I. Brauer, Karin Claudia Nin (Organiza...

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capa do ebook Linguagem, literatura e educação: discursos e complexidade

Linguagem, literatura e educação: discursos e complexidade

Publicado em 23 de dezembro de 2023.

Caro Leitor, 


É com grande prazer que lhe apresentamos o livro “Reflexões sobre Linguagem, Literatura e Educação”. Esta obra é o resultado de nossa dedicação e paixão pelos entrelaçamentos discursivos que nos permitem explorar os campos da linguagem, da literatura e da educação, refletindo sobre aproximações conceituais e abordagens pedagógicas que venham a contribuir com a formação de professores e estudantes – todos nós, sujeitos incompletos, heterogêneos, engendrados na e pela alteridade. Ao longo das páginas deste livro, você encontrará uma jornada intelectual, desenvolvida pelos estudos do Grupo de Pesquisa em Linguagem Literatura e Educação (LLE-IFSP), que busca iluminar a interseção fascinante desses três campos teóricos.
Nossa sociedade é construída por meio da comunicação e da narrativa. A linguagem é constitutiva dos sujeitos. Por ela e com ela, compreendemos o mundo, compartilhamos sentidos, nomeamos fenômenos. Se pela linguagem reproduzimos discursos, ao refletirmos sobre ela, também podemos transformá-los, reinscrevendo-nos nos espaços sociais, afetando o olhar sobre nós e sobre o outro. A literatura é um dos meios pelos quais compartilhamos nossas histórias, conhecimentos e valores. Além de ser um direito, é fundamental nos processos de subjetivação, marcando trajetórias discursivas, coletivas e subjetivas. A educação, por sua vez, é campo de encontro reflexivo sobre a sociedade e sobre os sujeitos que buscamos formar. As identidades e as subjetividades são pensadas como projeto e como movimento – a nosso ver, sempre dialógico e incompleto –, daí a importância de pesquisas que interseccionem conhecimentos e se voltem, sobretudo, para práticas pedagógicas que auxiliem agentes sociais dessa esfera de interação.
Este livro busca explorar esses três pilares – linguagem, literatura e educação – e suas interligações acerca de diferentes aplicações. Abordamos questões como: formação de professores, leituras significativas, práticas de leitura, educação antirracista, decolonialidade, o entre-lugar das línguas, conhecimento de línguas estrangeiras. Assim, convidamos você a conhecer as diferentes seções que compõem este livro.

SEÇÃO 1:
A primeira seção é intitulada “Experiências, Língua(gem) e Ensino-aprendizagem” e é composta por dois capítulos que lançam atenção para a formação de professores e para a formação de leitores, compreendendo os processos como complexos e interligados pelas múltiplas experiências e conhecimentos. 
Assim, no capítulo “Formação de professores de língua portuguesa sob a perspectiva da complexidade”, Karin Claudia Nin Brauer e Maximina Maria Freire investigam, descrevem e interpretam a formação de professores de Língua Portuguesa do Ensino Superior de uma instituição pública do Estado de São Paulo, em ambientação híbrida, sob a perspectiva da Epistemologia da Complexidade. Entendida como fenômeno da experiência humana, a referida formação foi promovida em um curso de atualização, desenvolvido de forma colaborativa, interligando diferentes saberes e focalizando contextos ligados à língua e ao processo de ensino-aprendizagem.
Desse modo, as autoras convidam os leitores a refletirem sobre a importância de uma formação docente transdisciplinar e complexa, que considere as múltiplas dimensões envolvidas no ensino da língua, o respeito ao contexto e aos participantes, ou seja, que valoriza as vivências, o conhecimento prévio, o diálogo entre diferentes saberes, as impressões, as necessidades e as sugestões dos participantes do curso.
No segundo capítulo, “Leituras significativas: a constituição de mundos em espaços, afetos e corpos em diálogo”, Fernanda Maria Macahiba Massagardi versa sobre o poder das leituras significativas. A autora nos convida a mergulhar na compreensão de uma leitura que pode não apenas nos levar a refletir sobre vivências, mas também a construir mundos, influenciar nossas emoções e moldar nossos corpos e espaços. 
Massagardi ressalta que realidade e leituras coexistem e são interligadas, afirma que para que ocorra a compreensão de um texto, de um corpo e de uma imagem é necessário que o sujeito consiga perceber as relações existentes entre os estímulos, as subjetividades e contexto de mundo no qual vive. Este capítulo, é dessa forma, uma jornada intelectual que nos lembra da riqueza das interações entre leitores, textos e contextos.

SEÇÃO 2:
A segunda seção deste livro intitula-se “Língua, Discurso, Movimentos Decoloniais” e é composta por capítulos que convergem olhares decoloniais e contra-hegemônicos, permitindo a emergência de identidades subalternizadas e estabelecendo novos percursos de sentidos, novos espaços de significância, pelos quais discursos dominantes são questionados e desnaturalizados.
No capítulo 3, “Interlocução com (re)existências: práticas de leitura a partir do dialogismo em letras de RAP”, Viviane Dinês de Oliveira Ribeiro Bartho discute a formação de leitores. A autora propõe uma abordagem discursiva da leitura na escola em que se considerem o sujeito engendrado na e pela alteridade e a produção de sentidos como prática dialógica e heterogênea. Para Bartho, perpetuar o aspecto reprodutivista e descontextualizado de sentidos no processo de leitura pode contribuir com a legitimação de discursos dominantes tidos como “naturais”, mas que precisam ser problematizados, coletivamente. A autora faz análise da canção de rap “Mufete”, de Emicida, como sugestão de prática pedagógica, sem a pretensão, contudo, de estabelecer roteiro metodológico fechado, que seria limitante, na opinião da autora, para seu objetivo de alinhamento à perspectiva da multiculturalidade e dos letramentos de reexistência. Bartho ressalta, ainda, a importância de se levar para a escola produções de linguagem que deem voz e espaço discursivo para a diversidade, principalmente para identidades historicamente silenciadas e discriminadas. Trabalhar com letras de rap, um estilo artístico considerado marginal, não canônico, poderia, segundo a autora, contribuir para a democratização do currículo formal, dos lugares de fala e dos sentidos sócio-histórico-ideológicos.
Já no capítulo 4, “Educação antirracista, decolonialidade e exames vestibulares”, Valmir Luis Saldanha da Silva discute em que medida há contribuição do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e de outros processos seletivos no enfrentamento da problemática racial. O autor analisa questões dessas avaliações, observando o modo como as leituras sugeridas por elas são abordadas no que diz respeito às questões raciais. Saldanha constata uma abordagem que pouco contribui para a compreensão da cultura afro-brasileira e para o combate ao racismo e ao processo de subalternização do negro no país. A partir disso, o autor faz proposições interessantes para a prática docente com textos literários e tece reflexões sobre modificações possíveis em exames vestibulares, com vistas à formação antirracista dos estudantes e à aproximação de práticas pedagógicas das leis n° 10.639/03 e n° 11.645/08, que instituem, na educação básica, a obrigatoriedade do trabalho sobre, respectivamente, “História e Cultura Afro-Brasileira” e “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Em tempo, Saldanha também salienta a importância de se combater o epistemicídio, sobretudo, o epistemicídio relacionado às mulheres negras, cujas vozes, como coloca o autor, não tiveram espaço na literatura brasileira ou não foram ouvidas, dada a condição subalternizada em que essas identidades foram, historicamente, engendradas.
Os dois capítulos desta seção dedicam-se, pois, a questões de extrema urgência para a educação brasileira. Repensando práticas para o ensino da língua portuguesa, engajam-se em um projeto antirracista e decolonial, no qual discursos sedimentados passam a ser rediscutidos e a formação dos sujeitos ganha perspectiva politizada, crítica e transformadora.

SEÇÃO 3:
Esta terceira e última seção é intitulada de “Língua(s), Discursos e Processos de Subjetivação” e é composta de capítulos em que a língua e sua aquisição se veem diante do outro, isto é, as línguas estrangeiras em dois contextos bem particulares.
O primeiro capítulo é de Carolina Moya Fiorelli, pesquisadora que se dedicou a compreender a língua portuguesa em sua dimensão humanitária. Em “Quando a primeira língua não é a materna: o entrelugar das línguas em famílias imigrantes no Brasil”, Fiorelli vasculha os desafios e vazios que venezuelanas e venezuelanos enfrentam no Brasil. Há uma dimensão seminal nesse texto, pois a abordagem da autora ultrapassa as visões de “língua estrangeira”, “língua para fins específicos” e até mesmo a mais contemporânea “língua de acolhimento”. Ao situar a aprendizagem do português em contexto de enunciado concreto - as aulas oferecidas pela UNESP de Araraquara e os relatos das dificuldades de pertencer à língua e à comunidade em que cidadãos venezuelanos em situação de refúgio estão inseridos -, Carolina propõe a categoria de “português para fins humanitários”.
Acerca desse estudo, é imprescindível destacar o quanto os relatos e as ações demonstram sobre os brasileiros frente aos venezuelanos, ainda que o discurso oficial dos últimos anos lhes tenha tratado com tamanha aversão.
O último capítulo, “O cuidado de si na sociedade neoliberal e o conhecimento de línguas estrangeiras”, de Cinthia Yuri Galelli, imiscui-se no discurso publicitário de escolas de idiomas a fim de vasculhar os pressupostos de certos modos de enunciar a relevância do aprendizado de línguas estrangeiras. Galelli parte do conceito de “cuidar de si”, proposto por Michel Foucault e demonstra como os objetivos, as expectativas, as motivações para se saber outra língua se performam atrelados a discursos que incentivam as pessoas a serem “empreendedoras de si mesmas”.
A autora identifica que, dentre as estratégias discursivas de que o markenting das escolas de idiomas lança mão, está em selecionar cuidadosamente corpos de indivíduos que representam o modelo de sucesso ideologizado pelo discurso neoliberal. Nesse sentido, o cuidado de si toma o sentido de existir dentro da economia, de ser útil para o sistema econômico. Trata-se, enfim, problematiza o artigo de ser sujeito dentro e somente dentro do neoliberalismo.


Como se pode observar, em todas as seções, predomina o intuito de relacionar as pesquisas com práticas educativas e/ou situações em que a educação contribui diretamente para a formação de sujeitos emancipados. 
À medida que você percorre as páginas deste livro, esperamos que encontre insights enriquecedores e inspiração para explorar importantes relações entre linguagem, literatura e educação. Obrigado por se juntar a nós nesta jornada.

Com gratidão,

Karin Claudia Nin Brauer
Robson Batista dos Santos Hasmann 
Viviane Dinês de Oliveira Ribeiro Bartho 
 

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