Publicado em 09 de fevereiro de 2023.

Publicado pela primeira vez em Sevilha em 1532, tem-se notícia certa de mais
duas edições da “Doctrina Christiana” de Gutierre González realizadas respectivamente
em 1564 e 1915.
A primeira edição de 1532, que será publicada integralmente nesta ocasião, foi
impressa em Sevilha, provavelmente, pela editora de Cromberger, principal imprensa
naquele período na Andaluzia. Trata-se de um volume de 27 x 19 cm em letra gótica
contendo notas marginais referentes ao conteúdo da doutrina. A Segunda edição de
1564, realizada Toledo, também em letra gótica, mede 20,5 X 14,5 cm, publicada pela
Casa de Miguel Ferrer. Essa apresenta licença real e eclesiástica, ambas datadas de
1563, que avalizam a edição. A terceira, de 1915, impressa em letra rústica, mede 24
X18 cm, publicada por iniciativa do governador da Santa Capela de Jaén, pela editora “La
Regeneración”.
O livro não tem paginação, mas possui um identificador em forma de índice que
indica a folha em que aparece o tema desenvolvido. Apresenta-se dividido em três partes
subdivididas em capítulos, sequencialmente disposto de acordo com os conteúdos que
encerra. Encontra-se arranjado em uma ordem encadeada onde constam: Prólogo;
Exortação e do Conteúdo disposto em duas Partes.
A primeira parte é composta de quatro grandes temas, compreendendo o que se
pode denominar de catecismo. Essa se encontra subdividida em capítulos. O primeiro
tema denominado: “Siguese la orden que ha de tener el preceptor en leer” é dirigido
ao professor e contém as normas e diretrizes a serem seguidas pelos preceptores. O
segundo são os artigos da fé denominado: “Comiença la exposicion de los articulos de
nuestra sancta fe católica”. O terceiro segue explorando o mesmo tema e se intitula:
“Siguense los pecados mortales con su exposición”. O quarto tema da primeira parte
se denomina: “Siguese la exposicion del Pater Noster segun Sant Augustin con algunas
declaraciones que sobre el haze el Guillermo Durando”.
A segunda parte da obra apresenta a Doutrina Moral a qual os professores devem
obedecer e aplicar à educação das crianças. Essa se encontra desenvolvida em dois
temas também subdivididos em capítulos intitulados respectivamente de: “Comiença el
Libro de la doctrina moral y exterior: en la qual el preceptor ha de imponer y enseñar los
niños y personas que la queran aprender” e, “Comiença la segunda parte desta obra y
doctrina que es dicha moral y exterior”.
Contudo, quer-se ressaltar o “Prólogo”, onde concentra a essência teóricopedagógico
que a sustenta. Esse caráter pedagógico é que faz dela uma obra, no
mínimo, instigante para o tempo que foi escrita. Sua organização, em forma de manual,
salta os olhos daqueles que estudam os fundamentos dogmáticos formativos presentes
na história da educação. O livro de Gutierre González mostra que, diferente do que se
pensa e encontra declarado na historiografia, a preocupação teórico-educativa elaborada
em função específica do trabalho pedagógico, pode-se situar bem antes daquilo que
conhecemos como as primeiras experiências escritas produzidas neste sentido.
Gutierre González, com toda a propriedade, pode ser considerado um dos primeiros
pedagogos a sistematizar um texto pedagógico baseado em fundamentos dogmáticos
eminentemente educativos. Por conseguinte, sua obra, o Livro de Doutrina Cristã, que se
traz a público, uma vez que, demonstrado a sua utilização como manual pedagógico pelos
missionários para educação no Período Colonial americano, é uma fonte documental
irrefutável que atesta que se trata do “Primeiro Tratado Pedagógico na América”.
Os fundamentos da concepção educativa de Gutierre González, que fazem de
sua “Doctrina” uma joia da literatura educacional e permite categorizá-la, sem nenhum
receio, como uma obra de cunho eminentemente pedagógica presente, no século XVI,
está contido, principalmente no início do livro, onde o autor exprime didaticamente seu
posicionamento em relação à filosofia da educação. Ali se encontra manifesta a concepção
de homem, de mundo e de sociedade que sustentam sua crença pedagógica. Essa
filosofia Gutierre González deixa claramente disposta no Prólogo do livro que, apresentarse-
á de antemão reescrito em espanhol hodierno, antecedendo sua forma original que se
encontra grafada em espanhol arcaico.