Imprensa e política na Província de Minas Gerais: espaços públicos e culturas políticas (1828-1842)
Publicado em 03 de maio de 2024.
Este livro foi apresentado, originalmente, como dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, em julho de 2006, perante a banca composta pelos professores doutores Luiz Carlos Villata, meu orientador, Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e Andréa Lisly Gonçalves. Após longo interstício, é aqui publicada com algumas atualizações, considerando-se as recentes contribuições historiográficas sobre a imprensa periódica e a vida política brasileira entre 1822 e 1842.
A pesquisa que originou este livro nasceu do interesse em analisar os discursos liberais divulgados pela imprensa periódica durante a instituição do Estado Imperial brasileiro. Cabe observar que esse processo se insere no movimento de constituição dos Estados Nacionais, desencadeado após a Revolução Francesa. O longo século XIX¹ presenciou a afirmação de uma ordem liberal e, simultaneamente, a instituição de um tipo de Estado que seria pretensamente capaz de controlar e garantir as liberdades apregoadas pelo Liberalismo. Nesse sentido, armou-se uma verdadeira encruzilhada política, já que esse Estado deveria ser instituído e, ao mesmo tempo, limitado. A formação do Império do Brasil esteve ligada às tensões que envolveram discursos que, de um lado, asseveravam a limitação do “exercício do poder de governar”² , e, do outro, representavam o recrudescimento daqueles que pretendiam reafirmar a autoridade monárquica. Passo a passo, fortalecia-se a aceitação do princípio da limitação das forças e do domínio da ação do governo, cujos meios para tal foram definidos pelo liberalismo clássico, como: o parlamento, a constituição, a imprensa e a organização da opinião pública³ .
Seguindo a trilha aberta pelos trabalhos de Ilmar Rohloff de Mattos4 e Marco Morel5, o enfoque desta obra reside nas relações entre a imprensa periódica e a formação dos espaços públicos de discussão na Província de Minas Gerais, no período circunscrito entre 1828 e 1842, quando se forjou uma imprensa politicamente ativa, que contribuiu no processo de constituição das bases da sociedade e do Estado Imperial do Brasil. Embora privilegie estes marcos cronológicos, alarga seus limites, recuando, quando necessário, à Colônia, estendendo-se, ainda, ao Segundo Império.
Para compreender a relação entre periodismo e formação dos espaços públicos, este trabalho apresenta o contexto sócio-político da província de Minas Gerais, observando as relações políticas e econômicas com a Corte. O perfil dos autores dos periódicos e dos leitores e interlocutores políticos será apresentado, realçando alguns sujeitos históricos, como Vasconcelos, Behring e Cortes. Em seguida, aborda a constituição de uma incipiente “esfera pública de poder”, acompanhando a trajetória das antigas tipografias e analisando os produtos de seus prelos. Mas os objetos impressos concluíam sua razão de ser com a leitura. Assim, este livro atenta para as diferentes práticas da leitura, ainda marcadas pela oralidade, relacionando-as à formação de um ambiente aberto à crítica dos impressos, em locais como bibliotecas, sociedades políticas, casas, tabernas e ruas. Por fim, focaliza as idéias de liberdade e soberania divulgadas pelos periódicos, panfletos e proclamações, ressaltando a formação de um ideário político que negava a participação popular e atrelava a imagem do Imperador ao Estado.
Trata-se de um esforço para compreender uma das fases mais ricas e instigantes da história do Brasil, que tem chamado a atenção da academia, com a produção de artigos, dissertações e teses. Nesse sentido, a obra que agora vem a lume insere-se numa historiografia recente, tributária dos estudos pioneiros de Ilmar Mattos, que procura recuperar a dinâmica da sociedade imperial, analisando a complexa luta em torno de visões de mundo distintas, que pretendiam traçar uma diretriz unificadora. Acreditamos que este livro ainda contribua para os estudos acerca do Império do Brasil, auxiliando novos historiadores a abrir a verdadeira “caixa-preta” que ainda envolve os anos entre a Abdicação do primeiro imperador e a ascenção política de D. Pedro II.
1 HOBSBAWM, Eric. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
2 FOUCAULT, Michel. Naissance de la biopolitique. Paris: Gallimard, Seuil, 2004, p. 29.
3 Ibidem, p. 23.
4 MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo Saquarema: a formação do Estado imperial. 4. ed. Rio de Janeiro:
Access, 1999
5 MOREL, Marco. As transformações dos espaços públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na
Cidade Imperial, 1820-1840. São Paulo: HUCITEC, 2005
Imprensa e política na Província de Minas Gerais: espaços públicos e culturas políticas (1828-1842)
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DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.973243004
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ISBN: 978-65-258-2397-3
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Palavras-chave: 1. Minas Gerais. I. Moreira, Luciano da Silva. II. Título.
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Ano: 2024
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Número de páginas: 223