Histórias ancestrais do povo parintinense
Publicado em 19 de dezembro de 2021.
Quando criança, sempre ouvia minha avó Rosa contar histórias de visagens. Ela sentava de tarde na sua cadeira de embalo na varanda de sua casa no São Benedito, esperando pelas visitas que sempre apareciam para conversar. Eu ficava lá ao lado dela e ouvia as suas histórias. Desenvolvi um respeito pelas suas narrativas e, à medida que o tempo passava, eu passava a guardar os relatos dela como uma doce lembrança, a qual me ajudava a superar a saudade da minha avó após seu falecimento.
Este livro surgiu justamente da vontade de trazer à memória sua voz e suas histórias, juntamente como o desejo de dar voz a outros idosos e de registrar suas memórias. Histórias que são uma riqueza sobre a identidade do homem e da mulher amazônidas, que tanto embalam o imaginário do povo parintinense.
Nosso objetivo inicial era entrevistar idosos, mas veio a pandemia ocasionada pelo Coronavírus, justamente atingindo de morte nossos velhos. Muitas vidas foram ceifadas, inclusive a primeira morte na ilha tupinambarana, Parintins, foi da idosa Maria Regina Marinho de Souza, benzedeira e puxadeira, que seria convidada para compor nossas entrevistas.
A covid-19 atrasou o projeto, mas não o impediu. Mudei o perfil dos entrevistados, visando preservar nossos velhos e surgiu o um novo objetivo: homenagear os nossos velhos por meio das narrativas sobre visagem que contavam. Então, lancei o convite a pessoas que conviviam com idosos ou desejavam relatar as histórias que ouviam deles, como forma de prestar uma homenagem a seus entes queridos. Muitos, inclusive, relataram que tinham vergonha de contar as histórias, porque as pessoas hoje iam rir deles, dizer que era mentira. Porém, resgataram em suas memórias as histórias sobre visagens que ouviam quando criança ou mesmo que vivenciaram e as narraram.
Descrevi fielmente os relatos e preservei a variação linguística popular e regional dos entrevistados em suas narrativas, por isso aparecem trechos com concordância verbal e nominal diferente da utilizada na linguagem padrão da língua portuguesa, bem como aparecem palavras de uso regional e com estrutura sintática embasada na oralidade. Destaco que alguns entrevistados, preferiram enviar seus textos escritos, por isso possuem menos marcas da oralidade e maior proximidade com a variação padrão da língua portuguesa.
A obra que hora apresento ao público foi elaborada com o desejo de que sirva para o fortalecimento da identidade amazônida, especialmente a identidade parintinense. Espero que chegue aos jovens e que eles se orgulhem da nossa cultura oral, das nossas memórias que hoje são registradas nesse livro.
Boa leitura!
Hellen Cristina Picanço Simas
Histórias ancestrais do povo parintinense
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DOI: 10.22533/at.ed.823211412
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ISBN: 978-65-5983-782-3
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Palavras-chave: 1. História do Amazonas - Parintins/AM. 2. Povo parintinense. I. Simas, Hellen Cristina Picanço (Organizadora). II. Título.
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Ano: 2021