Publicado em 02 de fevereiro de 2023.

A Campomanesia xanthocarpa Berg. é uma arbórea nativa
da Amazônia, encontrada em diversas regiões do Brasil, desde Minas
Gerais até o Rio Grande do Sul (GOGOSZ et al. 2010; ABE et al.,
2014). Seus frutos são conhecidos popularmente pelas sinônimas:
gabiroba, gaviroba, guabiroba, guaviroba, araçá e araçá-congonha
(SILVA et al. 2009).
A gabiroba pertence à família Myrtaceae, considerada uma
das mais importantes da biodiversidade brasileira (THE PLANT
LIST, 2013). As principais espécies da família Myrtaceae incluem
frutos popularmente conhecidos que estão presentes na alimentação
de diversas culturas do Brasil (PEREIRA et al., 2012; FARIAS
et al., 2020), entre os quais destacam-se, a goiaba (Psidium guajava),
jabuticaba (Plinia cauliflora), pitanga (Eugenia uniflora), araçá
(Psidium cattleianum), e o jambo (Syzygium jambos).
Embora a gabiroba seja uma planta popularmente conhecida,
é raramente cultivada em pomares domésticos, sendo sua expansão
de plantio de modo espontâneo e por conta disso é consumida
em pequena escala pela população (REITZ 1983; ABE et al.,
2014).
O consumo dos frutos da gabiroba pode ser oferecido na alimentação
in natura, ou em preparações, como: geleias, molhos,
mousse, iogurte, tortas, doces e sorvetes, além da matéria-prima
ter excelentes propriedades nutricionais para aplicação na indústria
de bebidas. Em comunidades locais, as bebidas à base de gabiroba
são preparadas de modo artesanal, em formas de licores
e vinhos. Além disso, a gabiroba é consumida popularmente no
preparo de chás para dores estomacais (BRASIL, 2018; BRASIL,
2015; LISBÔA, KUNUPP e BARROS, 2011; BARBIERI et al., 2018).
A gabiroba contém importantes propriedades nutricionais e
medicinais que podem contribuir na promoção de uma alimentação
saudável e no desenvolvimento de novos produtos aplicáveis
à medicina natural. Diferentes partes da planta têm sido utilizadas
popularmente no tratamento de distintas enfermidades.

A folha da gabiroba, por exemplo, foi testada de 33 pacientes de 18 a 90 anos
de ambos os sexos em um estudo randomizado duplo-cego. O grupo tratamento
com níveis de colesterol total >240 mg/dL que receberam 500 mg
de Campomanesia xanthocarpa em cápsula via oral, mostraram redução nas
taxas de colesterol total (CT) em 45 (redução de 24 ± 3%) e 90 dias (redução
de 28 ± 3%) após o início do tratamento. e das lipoproteínas de baixa densidade
(LDL) com redução significativa (45 ± 4%) (KLAFKE, et al., 2010). Esse
mecanismo de ação pode ser esclarecido pelo estudo realizado por Islam et
al. 2015, em que atribui o extrato da folha de gabiroba na inibição da atividade
dependente da concentração da enzima precursora de síntese de colesterol
HMGR (ISLAM, et al., 2015).
Além disso, as folhas são atribuídas ao uso como agentes preventivos da
hipertensão arterial. Os estudos demonstram que a administração aguda do
extrato aquoso de C. xanthocarpa tem efeito hipotensor dose-dependente
em ratos normotensos, sugerindo que o mecanismo de ação pode ser mediado
pelo sistema renina-angiotensina pelo bloqueio do receptor AT1 e resposta
autonômica simpática (SANT’ANNA et al. 2017). Estudos atribuem a interação
entre o ácido clorogênico e a quercetina presente na Campomanesia xanthocarpa
com o sítio ativo do receptor AT1 (AT1R) (SILVA e BÜNDCHEN 2011;
MORAIS et al., 2019).
Outras frações da planta como o extrato de sementes promoveram efeitos
anti-hiperglicêmico e hipolipidêmico, sendo que 400 mg/kg do extrato
da semente de gabiroba, foi capaz de reduzir os níveis de glicose sanguínea e
aumentar o conteúdo de glicogênio hepático e muscular, bem como inibir a
atividade da maltase e sacarase em ratos hiperglicêmicos (REGGINATO et al.,
2020).
Nesse contexto, podemos afirmar que todas as partes da Campomanesia
xanthocarpa possuem atividade biológica no manejo de diversas doenças
metabólicas. Com o objetivo de contribuir para melhor compreensão desta
relevante espécie brasileira, foi criado esse livro com dois capítulos. O primeiro
capítulo contextualiza a biodiversidade, características do cultivo, valor nutricional
e uso medicinal da planta e do fruto. Já o segundo capítulo, conclui
a obra com apresentação de saborosas e saudáveis receitas que podem ser
preparadas com os frutos e/ou subprodutos da gabiroba.