Publicado em 26 de março de 2024.

Este trabalho é parte da tese da primeira autora que, após a defesa de dissertação na área de Etnobotânica de Plantas Medicinais, conduzida no município de Acorizal MT, aceitou o convite para exercer a docência de ensino superior no Campus Avançado da Universidade Federal de Goiás em Jataí (CAJ–UFG). Tratava-se de um campus emergente onde a autora aportou em agosto de 1998 para exercer a docência na área de Morfologia, Anatomia e Taxonomia Vegetal, um vasto mundo de conhecimentos, vez que abrange os grupos sem flores, com flores e outros que nem vegetais são e sim, algas e fungos!!! Imaginem vcs a complexidade deste início de vida acadêmica desta autora...
Diante das adaptações do campus, em poucos anos o trabalho da autora fora direcionado somente às plantas com flores, ainda um mundo imenso e que se adapta à diferentes ambientes. Sendo assim, muitas plantas nativas, conhecidas de Mato Grosso, não eram encontradas facilmente no Sudoeste Goiano. Um exemplo clássico é o babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng.), tão presente nas matas secas mato-grossenses por onde a autora se deslocava, mas ausente (ou quase) na região onde a mesma aportara. Por outro lado, a autora encontrava constantemente a gueiroba: Syagrus oleracea (Mart.) Becc., inexistente pras bandas de Cuiabá e Acorizal.
 
E tantas outras plantas que colonizam aquelas áreas cerradeanas do Sudoeste de Goiás, banhadas pelas chuvas vindas da Mata Atlântica, foram novas ao olhar da nova docente de botânica, que vinha de um Cerrado Pantaneiro com nuances da Amazônia Central! Problema que precisava ser solucionado...
Somando à questão da distribuição das espécies no Cerrado, o olhar etnobotânico reconhecera melhor as plantas que tinham alguma relação com o homem. E quando surgia a pergunta: professora, que espécie é esta? A professora constantemente pedia tempo... E perdia tempo. Assim, percebendo o gap de conhecimento, planejara o doutoramento; analisando as paragens do Sudoeste Goiano surgira a Reserva Pousada das Araras, no munícipio de Serranópolis; trata-se de uma área conservada representativa do Cerrado, num município contíguo à Jataí, portanto relativamente próxima ao campus, no qual poderia direcionar um estudo florístico para ampliação do conhecimento da flora local.
Em posse de dados básicos sobre a área, entrara em contato com o segundo autor, Dr. Marco Antônio de Assis, professor do programa de pós Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus Rio Claro, que prontamente auxiliara na elaboração do projeto de doutoramento. O estudo fora aprovado na área de Biologia Vegetal, versando sobre a
diversidade florística e fenologia reprodutiva em fitofisionomias da Reserva Pousada das Araras.
 
O terceiro autor, Dr. Frederico Guilherme atuou fortemente na determinação das espécies arbóreas, durante as análises dos dados fenológicos e na elaboração dos manuscritos.
As coletas dos dados de campo foram conduzidas de janeiro de 2004 a dezembro de 2006; foram cerca de 4.000 horas distribuídas em 100 semanas, com a coleta de cerca de 2.000 amostras botânicas, mais de 500 imagens de plantas (e muitas de animais). Os resultados indicaram alta diversidade taxonômica e alternância de floração e frutificação nas formações presentes (https://repositorio.unesp.br/handle/11449/100670). Alguns táxons foram novas ocorrências para Goiás e uma espécie fora nova para a ciência: Adenocalymma alboaurantiacum (Faria & Proença) L.H. Fonseca & L.G. Lohmann (https://doi.org/10.11646/phytotaxa.284.1.6).
Para além da necessidade de ampliação do conhecimento da autora, havia a solicitação da criação de um herbário setorial. Esta tarefa fora aceita por esta autora, porém não havia recursos financeiros, apoio técnico ou logístico e infraestrutura para as expedições de coletas de campo, registro, transporte e acomodação do material botânico. Esta questão fora resolvida com a liberação da autora sem ônus, cujas coletas botânicas durante o doutoramento foram cuidadosamente organizadas, determinadas e registradas, transformando-se no embrião do Herbário Jataiense (http://hj.jbrj.gov.br/v2/consulta.php).

Dra. Luzia Francisca de Souza