Ex-votos comunicação, cultura e arte
Publicado em 20 de junho de 2024.
O GREC (Grupo de Estudos sobre Cibermuseus), hoje com os seus vinte e dois anos de idade, criado pelo saudoso Dr. Gottfried Stockinger, e desde 2006 coordenado pelo Dr. José Cláudio Alves de Oliveira e pela Dra. Ana Helena Delfino Duarte, é um Grupo de pesquisa que tramita entre a diversidade de temas, contextualizando a cultura popular, a arte, a religiosidade, a cibercultura e a folkcomunicação, e que vem realizando estudos nos campos iconográficos, jornalísticos, ciberculturais, museológicos, discursivos, da ciência da informação à memória social.
E assim, com olhares dilatados, os seus pesquisadores e pesquisadoras mergulham em pesquisas que trabalham patrimônios culturais diversos e abarcam estudos que contextualizam a fé e as transgressões, a memória e a museologia, o folclore e a antropologia, e a religiosidade quando falam do ex-voto, testemunho concretizado por meio do ato de desobriga em salas de milagres de igrejas e santuários católicos. Objeto que pode ser visto de variadas formas: bilhetes ou cartas, esculturas, milagritos, quadros pictóricos, fotografias, órgãos in vitro, mechas de cabelo, CDs ou DVDs, objetos pessoais, enfim, uma infinidade de objetos que ficam no espaço denominado “de milagres”.
Neste ano de 2024, mesmo todos nós do Grupo abalados (as) com a triste perda de um dos nossos pesquisadores, o Menderson Bulcão, reagimos com o que de bom tínhamos para reunirmos, sentarmo-nos, debatermos e tecermos o que aqui trazemos, fazendo exatamente o que o grande e inesquecível colega sempre mostrou em nosso Grupo: a inquietude nos estudos, no falar, no escrever, no debater.
Aqui, nos seus dois capítulos, as temáticas se sincronizam em um único tema: o ex-voto. A sincronia está enquadrada na arte e nas biografias, e fala em assuntos divergentes que o objeto ex-votivo consegue trazer à sociedade, com os seus múltiplos formatos, as suas grafias gramaticalmente incorretas, as suas ações pictóricas disformes etc., mas que chegam ao povo, seja através da sala de milagres, seja nos cemitérios ou mesmo num cruzeiro, de forma simples, expressiva e espontânea. Ou ao objeto artístico, pensado e formatado por mestres da pintura, que ressignifica o elemento ex-votivo para as galerias e museus.
No primeiro capítulo, a mestre em memória, Rahíssa Gomes, e o pesquisador José Cláudio Oliveira focam no processo infocomunicacional em que está o ex-voto. A base reside em Luiz Beltrão, autor da primeira tese de doutorado em Comunicação Social, do Brasil, defendida, em 1967, na UNB, quando o referido pesquisador viu os ex-votos como media potenciais para divulgação das questões sociais, individuais e coletivas, que as pessoas simples da cidade ou do meio rural criam e executa em um processo por ele chamado “folkcomunicacional”. Beltrão faz uma reflexão que exalta o ex-voto da década de 1960 brasileira.
Nas linhas que se seguem do capítulo primeiro, além de uma síntese da origem e conceituação do que vem a ser o ex-voto e de uma rápida reflexão sobre os ex-votos do Brasil e do México, a autora e o autor apresentam as potenciais formas testemunhais de representação iconográfica das graças obtidas que envolvem as ocorrências que motivaram a entrega do ex-voto. Fatores como a doença, a obtenção da terra para plantar, da casa, do carro, dos estudos etc., trazem a representação escultórica da doença curada que é a forma mais conhecida de um ex-voto; o testemunho de fatos e acontecimento em narrativas pictóricas, epigráfica e fotográficas; os hoje difundidos DVDs que trazem os casamentos, os batismos, as bodas, enfim, formatos antigos e novos que representam histórias do passado e atuais, formatos que preservam memórias individuais e coletivas, divulgadas em ambientes que insurgem em ruas, estradas, cemitérios ou, mais precisamente, numa sala de milagres. Objetos que, pelo grande potencial testemunhal, são dirigidos (ou coletados) para museus. Formatos que trazem informações ao público, mas que antes disso teve o propósito de comunicar-se com o padroeiro.
O segundo capítulo, trabalhado pelas pesquisadoras da Iniciação Científica do GREC, Fernanda Mascarenhas e Maria Clara Ribeiro Oliveira, em coautoria, analisam o ex-voto como elemento da cultura material, que alcança o imaginário popular e se expressa para além do âmbito religioso. O objeto ex-votivo é trazido em uma rica visualidade de elementos pictóricos e escultóricos, apropriados e ressignificados pelas artes plásticas, reafirma, cada vez mais, suas inerentes qualidades artísticas, borrando as fronteiras entre arte popular e erudita. No capítulo, algumas obras de artistas inspiradas nesta prática ex-votiva são analisadas, corroborando a importância desta tradição religiosa para a expressão estética da contemporaneidade.
Com esses dois capítulos, podemos perceber o caminhar das pesquisas e temas que abarcam o ex-voto, a folkcomunicação a cultura e a memória coletiva, onde o sentido de entender o objeto, no viés da ciência, envolve a descobridora daquilo que está oculto à sociedade em geral, mas, como demonstram os dois textos, com a facilidade de compartilhar com a sociedade, tornando pública as descobertas de cada fase e passo da pesquisa científica, e mostrando a todos os níveis escolarizados, e a toda a população, o retorno do fomento público.
Grupo de Estudos sobre Cibermuseus,
FFCH, UFBA, 22 de março de 2024.
Ex-votos comunicação, cultura e arte
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DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.592241806
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ISBN: 978-65-258-2659-2
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Palavras-chave: 1. Divindade e humanidade. 2. Adoração. 3. Cultura. 4. Arte. I. Oliveira, José Cláudio Alves de. II. Mascarenhas, Fernanda Assunção Camelier. III. Oliveira, Maria Clara Ribeiro. IV. Título.
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Ano: 2024
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Número de páginas: 90