Eu não sou uma ameaça! Histórias de mulheres que vivem com HIV
Publicado em 05 de maio de 2025.
A história do HIV no Brasil atravessa décadas, transformando-se ao longo dos anos, permeada pela medicalização e pelo apagamento de debates sobre desigualdades e direitos. Na trajetória do vírus no país, sua definição como um problema de saúde pública, o foco em respostas clínicas e a consolidação de dados epidemiológicos tiveram extrema importância para avançar nos cuidados de saúde. Entretanto, o olhar para as subjetividades, as investigações que fazem interface com ciências sociais e humanas e ações integradas do sistema de saúde se fazem necessárias para inteirar as demandas, cada vez mais complexas, das pessoas que convivem com o vírus.
A feminização da epidemia do HIV intensificou a exigência da perspectiva integral e singular, considerando aspectos como sexualidade, reprodução, o estigma social e as barreiras no acesso aos serviços de saúde. Essas que são apenas algumas das questões que perpassam as vidas das mulheres e estão sujeitas à sistemas sociais que promovem a opressão de gênero. Nesse contexto é absolutamente preciso refletirmos sobre as interseccionalidades que incidem sobre essas mulheres: como os marcadores sociais da diferença - raça, classe social, identidade de gênero, orientação sexual e outras dimensões identitárias – podem estar interligados impactando diretamente a vivência relacionada ao HIV e o acesso à cuidados.
As vozes das mulheres nos permitem traduzir, de modo simbólico, os múltiplos significados de vivenciar a infecção e conviver com o vírus, revelando medos, contrariedades, resiliências e esperanças. Assim, este livro busca trazer à tona reflexões a partir das experiências de mulheres, denotando a complexidade da convivência com o HIV, as dinâmicas na vivência da sexualidade nesse contexto, os desafios da maternidade soropositiva e as dificuldades encontradas na articulação com os serviços de saúde.
Essa investigação, conduzida com rigor científico, sensibilidade e cuidado, aponta para adversidades relacionadas à soropositividade e sobre os enfrentamentos das mulheres em suas interações sociais e com os serviços de saúde, que compõem o pano de fundo para discussão de como a infecção pode estreitar ou alargar laços afetivos, inclusive da rede familiar; e como equipamentos de saúde podem representar suporte ou perpetrar estigmas e violências, vulnerabilizando ainda mais as mulheres. A autora reuniu sua expertise acadêmica com refinada habilidade socioemocional e interpessoal para conduzir entrevistas profundas e significativas, cujas narrativas versam sobre invisibilidades, desvelando temas íntimos que foram confidenciados pelas mulheres.
Mais do que a produção e a translação de conhecimento, esta obra é um convite. Um convite para enxergar a vida que existe e acontece por trás das estatísticas; e um convite para profissionais de saúde, gestores, ativistas e toda a sociedade no sentido de construir espaços de vivência, convivência e cuidado mais acolhedores. Que esta leitura inspire mudanças, mobilize reflexões e, sobretudo, fomente novas representações sociais acerca da soropositividade para o HIV, mitigando estigmas e promovendo respeito e dignidade às mulheres que convivem com o vírus.
Eu não sou uma ameaça! Histórias de mulheres que vivem com HIV
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DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.626252804
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ISBN: 978-65-258-3162-6
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Palavras-chave: 1. Autobiografia. 2. HIV. I. Lima, Cindy Ferreira. II. Narchi, Nádia Zanon. III. Título.
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Ano: 2025
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Número de páginas: 197