Ebook - Etnografia Criativa: Insumo Primário entre Pesquisa e Emoção no Projeto de Assentamento Tarumã Mirim - AMAtena Editora

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1. Assentamento rural – Tarumã Mirim (AM). 2. Etnografia criativa. 3. Posse da t...

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capa do ebook Etnografia Criativa: Insumo Primário entre Pesquisa e Emoção no Projeto de Assentamento Tarumã Mirim - AM

Etnografia Criativa: Insumo Primário entre Pesquisa e Emoção no Projeto de Assentamento Tarumã Mirim - AM

Apresentar esta obra é quase como discorrer dentro da pesquisa, porque acompanhei esta pesquisadora em toda trajetória do período da coleta de dados, por eu ser o presidente da comunidade que fora escolhida para parte das entrevistas, e por ter sido eleito o mediador entre ela e os sujeitos pesquisados.

Por diversas vezes fui obrigado a socorrê-la, devido às intempéries em que ela se envolvia, principalmente em busca de alguns indivíduos que ela categorizava como “assentados do lazer”, de difícil localização e de negaceio aos fatos.

Outros momentos em que provocava situações entre engraçadas e preocupantes era o pavor que ela tinha das onças, por existir bastante dessas feras na área pesquisada. Apesar de nunca terem se enfrentado “cara a cara”, os temores dela eram enormes (e com razão), porém, por uma boa entrevista, ela superava esses obstáculos, e muitas vezes incorria em situações perigosas.

Quando ela se dispôs a ouvir e narrar a historicidade da comunidade, ela se enlevava dentro das histórias, como quando conheceu a benzedeira e puxadeira local. Se beneficiou das puxadas na coluna vertebral, e se encantou.

Nas outras histórias, como o soldado da borracha, centenário na comunidade, ela se impressionou com o vigor do entrevistado, sua disposição e sua lucidez, a trabalhar com enxada e a cuidar dos porcos e galinhas.

As histórias das caveiras, dos cadáveres desovados no Ramal do Pau Rosa, em toda sua extensão, mais ampliavam o cenário mítico e assombroso que cerca o assentamento, porém a luta assídua de diversas mulheres guerreiras na sua labuta cotidiana também representou relevante importância na sua pesquisa.

Pesar e contradições também presenciei em sua trajetória, quando teve que discorrer sobre as clínicas de recuperação existentes no PA Tarumã Mirim, devido à sua história social como Agente da Pastoral da Sobriedade, em apoio às famílias de dependentes químicos. De um lado ela entendia os receios dos assentados, em ter clínicas de recuperação dentro do assentamento, e de outro ela penalizava-se porque não é fácil os vitimados conseguirem internações para se recuperarem.

Parte da base para esta obra já existia, quando ela conheceu o assentamento, antes da pesquisa-base, em seu trabalho social como voluntária da igreja Católica, pela Pastoral da Sobriedade. Um período remoto, por ainda não existir luz elétrica na comunidade. Daí ela conheceu a rotina, os costumes, vivenciados na precariedade. No retorno à comunidade, para a pesquisa de campo para a sua Dissertação, ela trabalhou os comparativos entre o “tempo sem luz” e o do momento da pesquisa, com a já existente luz elétrica, e traçou um paralelo de evolução entre diversos hábitos locais.

O lazer, como prazer, lhe instigou a interpretar como possível e variável, mesmo sem a intermediação do Estado, pois na comunidade pesquisada, ou em outras conhecidas, não há cinemas, centros de convivência, parquinhos... nada... mas mesmo assim a variedade de formas que o lazer é apreciado lhes possibilita divertimento, relaxamento, prazer.

O lazer analisado como mercadoria, lhe mostrou que tal prerrogativa poderia futuramente vir a ser um nicho econômico, que poderia se tornar um potencial financeiro para os agricultores. Ela abarcou as possibilidades, classificou os assentados, e a obra apresenta uma análise contextualizado nessa vertente produtiva: venda do lazer, como uma mercadoria negociável.

Além dos aspectos do lazer, analisados nos dois polos (prazer e comércio), a obra também relata e analisa as formas de puxiruns (mutirões) existentes no PA Tarumã Mirim, alguns a diferir dos tradicionalmente conhecidos, tais como o puxirum comunitário, ocorrido instigado devido à necessidade de “trazer pra estrada boa” o cultivo, devido à impossibilidade de plantar e colher na lote do dono da terra. Em muitos puxiruns a pesquisadora estava ali, presente, participando, colaborando (e na maioria das vezes atrapalhando – mas ninguém dizia isso a ela). Porém desses momentos ela conseguiu captar no âmago a vivência rural.

Por muitos meses o acompanhamento da rotina comunitária, assessorada pela Associação foi essencial, para o relato da representatividade que ocorre na transferência de poder de uma pessoa física para um grupo jurídico, com poder de voz a transubstanciar junto às instituições (apossando-me de seus dizeres), mostrando a importância que as associações representam no universo rural.

Toda obra apresenta um “quê” de emoção, de afeto, em que o estudo reporta como topofilia, que é o elo afetivo entre os indivíduos e o ambiente em que ele vive. Isto é muito aparente na zona rural, principalmente nas pessoas mais idosas, que se apega à sua casa, seu lote, seu “mundo rural”, e nele tem o desejo de permanecer.

A obra também apresenta fatos não tão elogiosos ou adequados a um assentamento rural, gerido pelo INCRA, tais quais os “assentados do rádio” e outras situações, por isso da necessidade do anonimato dos personagens, tais quais este que apresenta esta obra, aqui citado somente como ENT-35, mediador e informante-chave, no intuito de evitar reprimendas ou dados àqueles que  estão em desacordo com as institucionalizações, vindo a prejudica-los.

Esta obra é pertinente nos diversos tópicos aqui abordados, por levantar hipóteses inquietantes e relevantes ao mesmo tempo, e por abordar cenários que poderão trazer melhorias para a comunidade, bem como para o assentamento como um todo, como, por exemplo, a exploração do lazer como complemento de renda para os assentados, por adequar-se em capacidade turística devido sua localização, suas águas, suas matas. 

Este é o resultado desta obra: instigar. Dar parâmetros para ampliar a vertente abordada, relatar o “mundo rural”, com suas benesses e dificuldades, e mostrar, nas entrelinhas das análises dos resultados, que o lazer pode transformar-se em mercadoria, com amplo valor comercial.

Porém, mais que o aqui já relatado, esta obra mostra que, para se praticar a etnografia, a criatividade deve ser o instrumento humano de maior valor agregado, para um melhor conhecimento da cultura e dos indivíduos ali envolvidos.

Conforme ditos da autora, “a etnografia criativa resulta da criatividade do pesquisador, no convívio direto com o sujeito/objeto pesquisado, a partir do conhecimento e das interpretações sistemáticas”, quando o pesquisador se utiliza de diversas formas criativas para melhor “captar” as nuances do ambiente, da cultura, dos hábitos e comportamentos.

Ent-35, ENT-35, mediador e informante-chave da pesquisadora.

(Obrigatoriedade do sigilo na identificação, devido a diversos fatos inadequados que poderiam comprometer a posse da terra de alguns entrevistados na localidade pesquisada).

 

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Etnografia Criativa: Insumo Primário entre Pesquisa e Emoção no Projeto de Assentamento Tarumã Mirim - AM

  • DOI: 10.22533/at.ed.896202805

  • ISBN: 978-65-5706-089-6

  • Palavras-chave: 1. Assentamento rural – Tarumã Mirim (AM). 2. Etnografia criativa. 3. Posse da terra – Aspectos sociais. I. Barbosa, Rita Maria dos Santos Puga. II. Título.

  • Ano: 2020

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