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Etnocídio e resistência dos povos indígenas – 2ª Edição

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Etnocídio e resistência dos povos indígenas – 2ª Edição

Publicado em 08 de maio de 2023.
Como podemos identificar o exato momento em que recebemos
uma boa notícia?
Eu estava amazonicamente, caboclamente deitado em minha rede,
quando fui convidado pelo poeta cordelista e meu amigo Francisco Marcelino
Santana para fazer o prefácio da trilogia de seu livro Poemas da vida amazônica.
Então, no embalo da rede comecei uma viagem para pensar em poesia. E
consequentemente, pensar especificamente em poesia nordestina. Procurei por
origens, formas, linguagens e tipos. Fui visitar as obras de meus amigos poetas
e repentistas pois eu queria entender o que é a poesia nordestina.
Apenas puxei pelo fio do novelo e fui cair no universo diverso e rico
da poesia. Essa foi uma demorada viagem porque não se faz de uma vez... é
devagar... é por aproximação... também é preciso ser aceito. Pude ter acesso
a algumas coisas e assim compreender, saborear, me deleitar passo a passo
nesta onírica viagem rumo a poesia. A poesia é algo presente no pulsar da vida...
É uma forma de olhar o mundo, a natureza e a vida de maneira pr imordial…
A poesia tem rima, ritmo e também não os têm... O que é a poesia
então? Simples: é linguagem fluída. É mais ou menos assim: quando penso em
Drummond, me revela muito forte a memória e o lugar; já em Shakespeare sinto
o despertar para a humanidade... Penso em Zé da Luz e tudo que é atribuído a Zé
Limeira e percebo que tudo pode ser recombinado, reestruturado e o que chamo
de realidade está livre para ser totalmente subvertida na “poesia do absurdo”
onde todas as formas, coisas, naturezas se juntam, conversam e interagem;
encontro Patativa do Assaré e vejo o homem sábio que se faz e dialoga com
o mundo... Catulo da Paixão Cearense que enxerga as formas de maneira
embevecida... Vou visitar meu amigo poeta Alberto Lins Caldas, que com sua
poesia entra na escuridão para reencontrar e reacender a chama do humano
que existe em cada um de nós… E Cora Coralina? É uma mulher que passa toda
uma vida colhendo palavras e no auge de sua vida se autoimortaliza e explode
em palavras e encantos... ao encontrar Manoel de Barros sou impactado por
suas poesias que destroem qualquer arrogância, posse ou materialidade das
“importâncias” e então eu entendo “das desimportâncias do mundo”... Lembro
de José Accioly Cavalcante Neto que em seu poema “Natureza das coisas” diz:
“a natureza não tem pressa, segue seu compasso, inexoravelmente chega lá”,
trazendo para sua sua poesia a palavra “inexoravelmente”... Como trazer uma
palavra tão complexa para a poesia? Resposta simples: para a poesia não há
limites ou muros, então, tudo se torna inexoravelmente possível...
O que é a poesia? Não sei. É expressão clara do espírito, a abrir o peito
e mostrar o coração. É o ser humano se decompor em emoções e lágrimas e se
reconstruir humanamente mais leve e mais puro.
E a poesia nordestina? Seja a “poesia nordestina” ou cordel ou poesia
do povo, com sua origem vinda dos mouros e ibéricos, é uma criação própria
do Nordeste brasileiro. É a nossa brasileiramente encantada... Me encanta a
sonoridade, a posição das palavras… As palavras têm sintonia, se combinam com
outras palavras como uma sinfonia. O caminho de fato não é uma preocupação
pelas origens... esta é apenas o ponto de partida…
Aprendi com o poeta Alberto Lins Caldas que a “poesia nordestina” é
o semiárido, o agreste, as zonas da mata, as pequenas cidades, as grandes
cidades, o mar, as passagens, as pousadas que se tornariam cidades, as
passagens e cruzamentos de rios, estações, explorações, crimes, violências,
rememorações, comemorações, maneiras de manter a vida e suas âncoras,
a vida e a morte, honras e desonras, pai e mãe, poderes e fraquezas, o que
fazer, como dizer, o que escutar, como escutar, o corpo, os corpos, o desejo, os
desejos. Escrever para fazer-se escutar e ensinar para criar seu lugar, proteger
seu lugar, não apagar o passado, mas torná-lo grande e permanente. Uma
maneira de alegria e dor. De fato, o poeta Alberto Lins Caldas sabe traçar um
perfil do que é a poesia nordestina.
Já é momento de tratar da trilogia Poemas da vida amazônica do sertanejo
Marquelino Santana professor, acadêmico, escritor, poeta e cordelista. Nascido
na pequena cidade de Mauriti, interior do Ceará, onde firmou sua poesia junto
a outros poetas e repentistas, como Patativa do Assaré, José Fernandes, Aderi
Júnior, Pedro Ernesto, Neto Gomes, Raimundo Mariano, Daniel Mariano, Paulo
Pereira, Horácio Neto, Acrísio Pereira e os saudosos Francisco Neto e Geraldo
Nascimento, como tantos outros de sua região. Mauriti é cidade localizada na
Chapada do Araripe, possui uma vegetação de caatinga, local de habitação dos
povos tapuias. No poeta Marquelino corre em suas veias o valoroso sangue do
povo Kariri talvez por isso, além de poeta cordelista e professor, é um ser humano
de grande valor, amigo, solidário, fraterno, conciliador. Mas é preciso dizer já
que estamos tratando da fala, que Mauriti vai se revelar em encantamentos e
versos quando é pronunciada na sonoridade correta: “Mauri-tí” acentuando forte
na última sílaba.
A obra Poemas da vida amazônica é dividida em três tomos: “morte e
vida seringal”, “etnocídio e resistência dos povos indígenas” e “escola e bem
viver”. São três livros interligados e que trazem toda a carga cultural vivida e
experienciada pelo poeta cordelista.
Logo no primeiro volume, Poemas da vida amazônica: morte e vida
seringal, com o poema “Seringueiro sim, seringanado não” o poeta amplia o
entendimento das palavras e já demonstra a sua postura de enfrentamento
ao contar sob o olhar da vivência, a trajetória silenciada pela história oficial.
A experiência do nordestino que chega na Amazônia para viver nos seringais,
denuncia que esse ser humano, o seringueiro, não quer ser enganado. É uma
narrativa contundente de avós, pais e de si próprio. Em versos está retratada a
autobiografia que traz uma vivência coletiva. O olhar, a fala, a vida do nordestino
que chega para trabalhar na Amazônia nos períodos de exploração da goma da
borracha é silenciado. Os registros históricos validados e oficiais trazem uma
versão distante ou invisibilizada da vida deste seringueiro. O cordelista Marquelino
em palavras poetizadas e de profunda emoção traz os aspectos históricos sob
outra perspectiva, a de quem viveu, sofreu e enfrentou o ambiente amazônico
sob um regime econômico e de trabalho brutal por duas vezes aplicados pelo
capitalismo no final do século XIX e meados do século XX na Amazônia.
A narrativa poética do cordelista Marquelino retrata a vida dos povos
originários de um ponto de vista humano, solidário e de proximidade com os
povos originários encontrados aqui na Amazônia. Não há contradição entre o
kariri adormecido no sangue do cordelista com os povos que aqui encontrou
e convive. A poesia cordelista retrata a dor e o sangue derramado dos povos
originários, conforme podemos verificar nos poemas do segundo volume da
trilogia, Poemas da vida amazônica: etnocídio e resistência dos povos indígenas.
O terceiro volume da trilogia, Poemas da Vida Amazônica: escola e
bem viver, é ambientado no sonho e amor que o cordelista Marquelino tem
pela escola, pelo processo mágico e transformador do ensinar-e-aprender, dos
saberes e do conhecimento. Assim se caracteriza o volume três “escola e o bem
viver”. A escola é o universo onírico retratado pela narrativa poética do cordelista.
A escola, o aprender, o reconhecer os diversos saberes rompem os limites do
tempo pois modela o futuro, constrói sonhos, alimenta a liberdade, desvanece a
obscuridão da ignorância, floresce a felicidade e nos reconhecemos humanos...
demasiadamente humanos...
Hora de voltar de minha viagem pela poesia proporcionado pela obra
Poemas da vida amazônica. Não é uma viagem necessariamente particular.
Basta abrir o livro do cordelista Marquelino.
A minha mente ainda na poesia, o meu pé levemente toca no chão e
impulsiona minha rede e volto a me embalar...
preguiçosamente...
caboclamente...
amazonicamente...
Como diz o povo Kaxarari ao finalizar uma fala: “... era só isso que eu
tinha pra dizer...”
Josué da Costa Silva

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Etnocídio e resistência dos povos indígenas – 2ª Edição

  • DOI: 10.22533/at.ed.196230505

  • ISBN: 978-65-258-1319-6

  • Palavras-chave: Etnocídio e resistência dos povos indígenas – 2ª Edição

  • Ano: 2023

  • Número de páginas: 78

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