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1. História e condições atuais da relação entre Estado e Religião. I. Ambrósio,...

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Estado e Religião: uma divisão filosófica de uma relação conflitiva

Publicado em 05 de julho de 2023.
A quarta consideração de ser mais temeroso o juízo dos homens,
que o juízo de Deus, porque Deus julga o que conhece, os homens
julgam o que não conhecem. [...] Deus julga os pensamentos,
mas os conhece, o homem não pode conhecer os pensamentos,
e julga-os.
Padre Antônio Vieira, 1689.


Honroso é o privilégio de reencontrar nesta obra a lucidez luminosa da
inteligência de José de Magalhães Campos Ambrósio, cujo primeiro contato me
foi proporcionado quando de sua chegada ainda na graduação à Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), no contexto do programa de mobilização
estudantil, vindo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), onde hoje é
professor. A todos cativou desde o primeiro momento, quer seja por sua sedutora
inteligência, quer seja pela sua lhaneza de ser em um estilo sempre zen. Corajoso,
impõe-se o desafio de pesquisar em sede de Teoria do Estado em um momento
histórico marcado por furiosa e extremada estatofobia. Cenário de uma terra
devastada pela fúria neoliberal, com suas hordas de pregadores idólatras, cujo
totem e objeto de culto ainda hoje, na contemporaneidade, permanece sendo o
velho bezerro de ouro dos antigos hebreus tão bem reproduzido na imagem do
dourado touro de ouro na porta de bolsa de valores em Wall Street.
A obra com a qual somos agora brindados reafirma o conceito hegeliano
de ser a religião um dado da cultura que, portanto, em um mundo marcado
por conflitos civilizacionais, no qual nos parece cada vez mais atualizada a
díade schmittiana do amigo-inimigo, pela qual a oposição sagrado-profano
parece conduzir a conflituosidade contemporânea. A poderosa lente de José de
Magalhães leva-nos a repensar o teológico-político reemergente como fruto do
desencantamento do mundo pelo Iluminismo e pela Revolução Francesa que
parece ter nos legado uma civilização marcada por uma degenerada e cruel
razão instrumental, provocando uma “revanche de Deus” como resposta às
frustrações, à desesperança e ao desespero do flagelo ético com o qual nos
confrontamos na atualidade.
Preciosa é sua análise sobre os totalitarismos que instrumentalizaram
ícones e performances inerentes ao sagrado em suas violências políticas
profanas. A leitura da presente obra nos rememora o célebre episódio histórico
envolvendo os vitoriosos aliados ao fim da Segunda Guerra Mundial quando por
insistência de sua santidade, o Papa Pio XII, os aliados ocidentais insistiam em
discutir junto a Josef Stalin o destino da católica Áustria, então ocupada pelo
poderoso exército vermelho. Quando, nesta ocasião, Stalin, já incomodado com
a insistência no tema, indaga arrogantemente sobre quantas divisões possuía o
Papa para que aquele assunto fosse tão recorrente. O poderoso dirigente soviético
não conseguia ver as divisões do Papa, que se manifestaram, vitoriosamente, no
histórico ano de 1979 na católica Polônia, levando à ruína o socialismo real em
todo leste europeu, contexto em que o cardeal Karol Wojtyla, então Papa João
Paulo II, e o cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, os algozes do
socialismo realmente existente, como grandes geopolíticos e estrategistas, sem
um só tiro escrevessem o epitáfio da experiência do socialismo real.
A aliança teológico-política por eles forjada com o império americano teve
como contrapartida geopolítica o combate sem trégua à Teologia da Libertação
no cenário latino-americano, moeda de troca que custou a contenção da igreja
progressista e a expansão política e eleitoral do movimento carismático católico
e das seitas neopentecostais a partir de então empoderadas. A guerra cultural
empreendida por tal aliança na América Latina substituiu os sangrentos conflitos
armados da América Central da década de 1970 do século passado pela disputa
de corações e mentes por meio do teológico-político para ficarmos com Schmitt.
Exemplar em tal contexto foi a visão prospectiva do ex-aluno jesuíta,
Fidel Castro, com sua reforma constitucional pela qual renunciou ao ativismo
estatal ateu reestabelecendo em seu país a liberdade de culto, o que certamente
lhe proporcionou o privilégio de ao contrário dos epígonos soviéticos no leste
europeu de morrer velho na cama tendo recebido em vida a visita de três
Papas e tendo como cenário de fundo a erosão dos regimes socialistas do
leste europeu transformados em cinzas. Portanto, esta obra, Estado e Religião,
passa a condição de leitura seminal a tantos quantos pretendem alcançar uma
compreensão crítica da emergência no cenário político estatal de um agressivo
confessionalismo que abala os conceitos de secularismo e laicismo tão bem
ilustrados na presente obra. Em derradeiro, fica a nos dever agora o autor novas
e corajosas reflexões, notadamente, em relação à emergência do apocalíptico
leviatã cibernético como a mais nova ameaça existencial a nossa civilização
como conhecida até então.

Paulo Roberto Cardoso
Junho de 2023.

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Estado e Religião: uma divisão filosófica de uma relação conflitiva

  • DOI: 10.22533/at.ed.053230507

  • ISBN: 978-65-258-1505-3

  • Palavras-chave: 1. História e condições atuais da relação entre Estado e Religião. I. Ambrósio, José de Magalhães Campos. II. Título.

  • Ano: 2023

  • Número de páginas: 160

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