Este livro da socióloga e professora Ida Raichtaler do Valle, resulta de um
trabalho muito importante sobre grandes mudanças socioeconômicas ocorridas
nas últimas décadas em sociedades industrializadas. É notável que o avanço
da medicina ao longo do século XX e início do XXI resultou no aumento da
expectativa de vida, além de dados demográficos apontarem a paulatina queda
da taxa de fecundidade associada a transformações culturais e econômicas.
Tais fatos acarretam mudanças significativas, criando desafios globais e
necessidade de construção de políticas públicas que respondam às demandas
do envelhecimento populacional.
A autora realizou pesquisas no Rio Grande do Sul, São Paulo, Cuenca
(Equador), entrevistou administradores e idosos residentes de Instituições
de Longa Permanência e longevos que vivem sozinhos ou que migraram em
busca de um outro estilo de vida. A temática do envelhecimento é analisada em
congruência com o fenômeno migratório, especialmente no capítulo que avalia
a situação de idosos nascidos nos Estados Unidos da América que decidiram se
fixar no Equador, onde a aposentadoria dolarizada proporciona uma qualidade
de vida mais elevada. As mudanças climáticas também são um fator de escolha
para que idosos migrem de um local para outro, em busca de clima ameno em
um mundo cada vez mais quente.
É importante enfatizar a migração judaica em que a autora se alicerça
e o quanto os seus estudos são reveladores, uma vez que os EUA fecharam
as suas fronteiras na década de 1920 e a América Latina se tornou uma opção
para recomeçar, embora já houvessem judeus residindo no sul do Brasil desde
1900; vale citar algumas localidades pioneiras na desta migração, como a
colônia de Philippson e a Quatro Irmãos no Rio Grande do Sul. Contudo, houve
uma migração judaica significativa a partir da segunda metade do século XX,
principalmente devido à existência de alguns membros da comunidade já
estabelecidos em território brasileiro, o que facilitou a inserção laboral destes
imigrantes e também cooperou para criação de uma comunidade orgânica e
preocupada com a própria questão do envelhecimento no Brasil, deixando o
legado de algumas instituições estabelecidas em São Paulo (SP) e Porto Alegre
(RS).
Este livro é um alerta para que as autoridades e sociedade civil comecem
a elaborar e refinar políticas públicas voltadas para uma população que será
cada vez mais envelhecida, uma vez que os dados revelam uma situação onde
serão necessárias mais organizações que acolhem idosos. Embora já houvesse
uma certa preocupação com o envelhecimento populacional nos últimos séculos,
os dados da autora são atualizados e contam com o recurso da História, onde
são levantados números do Brasil ainda do seculo XIX, revelando a urgência do
debate na contemporaneidade. Uma das preocupações de Raichtaler do Valle
é a formação de profissionais capazes de cuidar dos idosos, tanto em abrigos
quanto dentro das residências.
O envelhecimento é um tema cercado de tabu e que costuma ser ignorado
pelos governos e pelas famílias, que tem dificuldade em assimilar a velhice como
algo natural e que – com sorte e justiça social - atingirá a todos. É importante
a conscientização generalizada, tendo em vista que o conceito de longevidade
está se alterando ao longo dos séculos; um exemplo disso é o fim da visão
arcaica em que se assimila o idoso com a ideia de recluso. Na atualidade, a
velhice é um período ativo da vida e que merece um novo olhar sobre o papel
social da pessoa idosa na sociedade.

Dina Lida Kinoshita
Professora aposentada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo