Ebook - Efêmero e incerto: O futuro já chegouAtena Editora

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1. Ensino. 2. Aprendizagem. 3. Inteligência. I. Martins, José Lauro. II. Título.

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capa do ebook Efêmero e incerto: O futuro já chegou

Efêmero e incerto: O futuro já chegou

Publicado em 10 de dezembro de 2022.

Um tema recorrente nos congressos de educação é a necessidade de mudanças. Há décadas, ouvimos falar que não é possível continuar como está, que a educação tradicional já não responde às demandas da modernidade nem aos anseios das atuais gerações de crianças e jovens. Todo mundo concorda, todo mundo aplaude aquele palestrante que fala dessa nova educação que, supostamente, ainda não existe, mas cuja pertinência já estaria provada, e cuja emergência seria mera questão de tempo. Porém, o congresso acaba e, já na saída, ouvem-se comentários também recorrentes: “isso é muito legal, mas é teoria!”, “Isso é impossível!”. E assim, conversando uns com os outros – ou consigo mesmos – os educadores se convencem de que, de fato, são apenas teorias, que mudar a educação é apenas assunto de palestras, nada mais. Então, com as consciências acalmadas, os educadores voltam para suas escolas e continuam fazendo exatamente o que faziam. A mesmice de sempre...
No livro Efêmero e Incerto, José Lauro Martins – Prof. Lauro, como é mais conhecido – praticamente faz uma varredura dos argumentos em prol de um novo jeito de fazer educação, de forma que ela possa manter a sua essencialidade no Século 21. Sim, porque, como está, a educação tradicional já não interessa nem atende a praticamente ninguém, como explicitado em citação de Ángel I. Pérez Gómez que o Prof. Lauro incluiu em seu texto: “Se as escolas insistem nas práticas convencionais obsoletas que definem a maioria das instituições de ensino atuais, distantes e ignorantes do fluxo de vida que transborda à sua volta, correm o risco de se tornarem irrelevantes.” Isso é justamente o que dizíamos que vem sendo repetido em congressos de educação sem, ainda, sensibilizar a maioria dos educadores. Pois bem, esta obra do Prof. Lauro vem se somar, com convicção e veemência, ao clamor por uma mudança necessária e urgente na essência da educação, apontando caminhos para os mais ousados que se sintam prontos para iniciar essa travessia.
E tenho boas novas: a mudança da educação não só é necessária e urgente, como é real; não é apenas um sonho distante. Em todos os continentes, existem
hoje exemplos de escolas que conseguiram revolucionar a sua concepção de educação, distanciando-se completamente do modelo tradicional. Há escolas diferenciadas na Austrália, no Japão, na Indonésia, na Holanda, Inglaterra, Portugal, Dinamarca, nos Estados Unidos, na Colômbia... No Brasil, temos escolas públicas e privadas efetivando a transformação. Um exemplo é a Escola Municipal Prof. Waldir Garcia, de Manaus, situada em uma região periférica muito carente, que enfrentava toda sorte de dificuldades, como manutenção, evasão e desmotivação de alunos. Com a participação da Associação de Pais, promoveram uma transformação radical na concepção pedagógica, e a mudança foi da água para o vinho: hoje essa escola é uma referência em educação diferenciada no Brasil. Outra escola que é também uma grande referência em educação inovadora no nosso país é a Escola da Serra, em Belo Horizonte, cuja proposta pedagógica é diferente de tudo que se possa imaginar... uma educação tão diferenciada que, de fato, é outra educação!
O que seria essa outra educação? Venho estudando instituições de ensino com propostas diferentes mundo afora, buscando entender o que as distingue. Até hoje, elenquei 21 características que essas escolas comungam, e cheguei a uma interessante constatação: não importa a trajetória que tenham percorrido para chegar na diferenciação, elas acabam compartilhando uma série de atributos. A mudança, de alguma forma, acaba desaguando em um conjunto muito similar de aspectos essenciais. Não cabe aqui citar todos os 21 itens da lista a que eu já cheguei – e que, provavelmente, ainda vai aumentar – mas vou citar seis características que considero fundamentais:
A primeira delas, que talvez seja a mais determinante: nenhuma escola que, de fato, mudou – nenhuma! – continua tendo aula expositiva como estratégia principal de ensino. Ela pode até manter, aqui e ali, uma aula como recurso localizado – porque aula expositiva é, meramente, uma estratégia de ensino –, mas nunca como a única forma de ensinar. Nas escolas inovadoras, as estratégias de aprendizagem são múltiplas, são interessantes, são ativas, são motivadoras... Enquanto houver aulas, não há mudança, porque a aula é uma camisa de força que trava a escola e trava as possibilidades de mudança da escola.
A segunda característica importante das escolas diferenciadas é que o aluno é visto como um ser singular e complexo, ou seja, a escola reconhece que cada um tem seu ritmo individual, interesses próprios, potencialidades distintas,
limitações pessoais. E o aluno não é visto apenas como uma cabeça: Frei Betto uma vez comentou que um ônibus escolar é uma perfeita representação da educação tradicional, pois, quem olha de fora só vê, em cada janela, a cabeça de uma criança, o que faz parecer que o ônibus está levando uma porção de cabecinhas para a escola. Nas escolas diferenciadas, o aluno nem mesmo é visto como aluno, e sim como um ser humano na sua complexidade, nas suas múltiplas dimensões: a dimensão sensível, a criativa, a social, a afetiva, a física, a metafísica (autoconhecimento) e, também – claro! – a dimensão intelectual. E a escola se entende responsável por contribuir para que o aluno evolua em todas essas dimensões.
Uma terceira diferença diz respeito ao protagonismo. Na escola tradicional, o professor é a estrela: é ele quem tudo determina, quem tudo pode. Já nessas escolas diferenciadas, não: o professor está na retaguarda apoiando e orientando o aluno. O protagonista do processo de aprendizagem é exatamente quem deveria ser: o aluno!
Uma quarta distinção é que os espaços escolares não são aquelas salas de aula modelo fabril, com carteiras enfileiradas uma atrás da outra, obrigando o aluno a enxergar nada mais que o professor ou a nuca do seu colega. Nessas escolas inovadoras, existem espaços criativos, amplos, diversificados, onde o aluno pode variar de posição, de mobiliário, havendo, por vezes, mesas coletivas, bancadas para trabalhos individuais, sofás para leitura... ou seja, espaços acolhedores, agradáveis. Por que se pensa que, para aprender, deve-se condenar o aluno a ficar sentado durante horas numa carteira dura? A aprendizagem deve ser instigante e prazerosa.
Quinta característica: nesse desenho de outra educação, as relações entre os professores e os alunos são baseadas na confiança, no afeto e no respeito. Como é possível entender que uma instituição se diga educativa se, ao entrar, você só vê grades, correntes, cadeados? Evidências tão claras de desconfiança constituem uma incoerência essencial de uma instituição que pretende educar!
A sexta característica é que o currículo dessas escolas diferenciadas não visa apenas ao aprendizado de conteúdos formais de cada disciplina. Sem desconsiderar as aprendizagens específicas de cada área do conhecimento, essas escolas entendem que o estudo dos conteúdos formais pode, também,
ser compreendido como meio para levar o aluno a desenvolver habilidades que o tornarão um cidadão capaz de contribuir com a comunidade: iniciativa, independência, responsabilidade, cooperação, solidariedade, autonomia... esta última, que possivelmente, sintetiza as anteriores, compreendida como a capacidade de fazer escolhas responsáveis e de agir coerentemente com seus projetos de vida, guiado por uma ética que também cabe à escola assegurar.
O que torna o cenário ainda mais promissor é que nós temos a sorte de estar em um país cuja legislação educacional é das mais avançadas e libertárias do planeta! A LDB (Lei de diretrizes e bases da educação nacional), a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e a nova lei do Ensino Médio respaldam de forma muito decidida mudanças na educação. As escolas tradicionais estão ficando cada vez mais distantes do espírito dos documentos normativos desde a Constituição de 1988.
E, justamente, aproveitando os amplos espaços de autonomia assegurados pela legislação, desde 2004 a Escola da Serra se encontra engajada numa busca incessante pela essência da educação, eliminando, nesse processo, aquilo que tradicionalmente se mesclou à ideia de educar, mas que não resiste a uma análise mais apurada. E foi assim que, gradualmente, nos tornamos uma das escolas mais diferenciadas do país: uma escola sem uniforme (afinal, vestir-se é uma maneira de expressar a individualidade); sem salas de aula (o Prof. Lauro insiste, em vários pontos da sua obra, que a sala de aula mais atrapalha, restringindo possibilidades, do que ajuda); sem carteiras enfileiradas (escola não é fábrica); sem séries (o processo de produção de conhecimento não se subordina ao calendário); sem notas (educação é muito mais que a busca por alcançar um número); sem médias (considerar que 60% de desempenho é aceitável torna a escola cúmplice do fracasso do aluno – alerta que venho fazendo há tempos e que o Prof. Lauro traz para o seu texto); e sem aula (a verdadeira camisa de força que emperra e inviabiliza qualquer processo de mudança real na escola, determinando a posição do professor como sujeito ativo e do aluno como polo passivo; inviabilizando o acolhimento aos ritmos, características e interesses individuais; impossibilitando, como diz o Prof. Lauro, “atender desigualmente os desiguais”).
Livre de tantos distratores, podemos nos dedicar aos objetivos reais da educação, que no nosso entendimento são quatro: contribuir para o desenvolvimento dos potenciais de cada aluno; assegurar que se apropriem do
legado de conhecimento produzido pela humanidade; ampliar os horizontes dos estudantes oferecendo experiências que os levem além dos limites da bolha cultural, geográfica e socioeconômica em que vivem; empoderá-los para que se sintam preparados, confiantes e capazes de interferir na realidade como cidadãos atuantes e éticos.
Tudo isso se torna possível com relações de confiança, respeito e afeto; com um ambiente alegre, funcional e bem cuidado que reflete essas relações e, por isso, torna-se um “espaço educador”; com um currículo rico, diversificado, que oferece experiências instigantes e ousadas; com o aluno na posição de protagonista, construindo conhecimento, como diz o Prof. Lauro, “de dentro para fora”, exercitando-se, no dia a dia, como um sujeito cada vez mais autônomo.
A Escola da Serra concretiza todas as possibilidades de revolucionar a educação sintetizada nesta obra. E mostra, para tantos educadores que sonham com a mudança, que ela é sim possível. Naturalmente, é necessário que o corpo diretivo da escola esteja convencido da necessidade de buscar o novo e disposto a investir tempo e energia, a ter resiliência diante das dificuldades e a perseverar. É preciso coragem para sair da zona de conforto, ocupar os espaços de autonomia existentes e ousar construir uma outra educação!
Essa mudança não é fácil, mas – como mostramos – é possível, é necessária e já é real. O livro Efêmero e Incerto vem para inspirar e encorajar os educadores a partir para a ação!

Sérgio Godinho
Diretor da Escola da Serra
Belo Horizonte/MG

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Efêmero e incerto: O futuro já chegou

  • DOI: 10.22533/at.ed.676222911

  • ISBN: 978-65-258-0767-6

  • Palavras-chave: 1. Ensino. 2. Aprendizagem. 3. Inteligência. I. Martins, José Lauro. II. Título.

  • Ano: 2022

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