Publicado em 29 de junho de 2023.

Dos sentidos da Bioética à uma bioética de sentidos...
César Augusto Costa1

O que dizer, o que prefaciar para uma obra de Bioética de duas grandes
colegas, amigas e parceiras? Confesso que não é uma simples tarefa! Penso
que nestas modestas palavras, podemos cair ou escorregar numa economia de
sentidos. Mas, para a bioética não cabe economia de sentidos... Escrever esse
prefácio vai ficando complicado....
Trazer à baila uma produção de bioética, nos reporta muitas vezes em
atualizar esse imenso debate nas veredas do século XXI. Século que reforça
os tempos de desigualdades de toda ordem e exclusões legitimadas por um
Estado burguês capitalista que opera a partir de lógicas assimétricas de poder e
violência, principalmente econômica sobre a vida em geral. Eis que o capitalismo
mata!!
É uma honra apresentar esse novo projeto das competentes e apaixonadas
pela bioética, Marta Fischer e Caroline Rosaneli. Por outro lado, responsabilidade
em dizer muito em tão poucas palavras refletidos nestes seis belos trabalhos da
obra “E-caminho do Diálogo IV: espaços deliberativos na busca de uma nova
cidadania, novas políticas públicas e saúde planetária”. Dessa forma, como o
próprio título aponta, caminhar a partir do diálogo cidadão, político e sanitário é
uma necessidade interdisciplinar para a bioética desde sua origem na década
de 1970.
Da atualidade da bioética, nos reporta aos últimos quatro anos no
Brasil (2019-2022), onde assistimos lógicas deslegitimadoras sobre o papel da
Academia na construção do saber e da ciência! Tempo de desmontes, tempos
de um anti-racionalidade, tempos de discurso pró-morte, tempos de uma crença
cega no absurdo e na negação do real. São exemplos deste contexto anti-ciência
e anti-humanidade: “A Terra é plana. E a vacina recomendada e produzida pelos
maiores cientistas do mundo, capaz de conter a mortalidade da pandemia de
covid-19, são falácias!!”
Entendo que concepção desta obra vai numa direção que é possível
estabelecermos um debate crítico e criativo sobre temáticas que impactam o
nosso cotidiano e a nossa sociedade, sedenta de respostas sobre seu destino
e seu agora! Se todas as transformações passam pela educação, a obra em
questão refuta a deslegitimação. Opta pela conscientização crítica freireana e
faz muito bem!!
Vislumbrar a bioética numa perspectiva crítica é termos uma dimensão
horizontal e de uma alteridade daquilo que nos aflige e nos interpela.
Reconhecemos que muitas urgências do mundo, não cabem em nossos ensaios,
textos e teses, mas torná-las acessíveis didaticamente foi a tarefa que a Marta e
a Carol sistematizaram nesta caminhada!
Brindamos tod@s por estas discussões: do diálogo sobre humanização
de grupos que sofrem violência histórica (LGBTQA+), cidadania, saúde global,
“fome de água”, relações familiares e da perspectiva bioética da Laudato Si do
Papa Francisco.
Gratidão em constatar que minhas amigas partilham horizontes comuns
em torno da questão social que envolve a bioética, promovendo dimensões
amplas e francas, provocando o estímulo à reflexão séria e apurada de dilemas
que adentram o nosso existir!
Muito obrigado Carol e Marta e aos colaboradores por não economizarem
sentidos à bioética!!
Pelotas, 10 de março de 2023.

1 Sociólogo. Professor e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Política Social e Direitos
Humanos/UCPEL. Coordenador do Núcleo de Estudos Latino-Americano (NEL/UCPEL). Pesquisador do
Laboratório de Investigações em Educação, Ambiente e Sociedade (LIEAS/UFRJ).