Belsey (Ronald Herbert Robert Belsey 1910-2007) foi um cirurgião Inglês do século passado e considerado um dos maiores cirurgiões de esôfago da história.

Em uma ocasião ele disse, referindo-se aos sofredores de câncer de esôfago, que não há dignidade em viver sem comer. Em muitas ocasiões, a despeito de concordarmos com a assertiva de Belsey, “comer” é impossível e uma via alimentar alternativa é necessária. A gastrostomia é, certamente, a melhor destas vias alternativas. Sua confecção endoscópica ainda a faz melhor, diminuindo a morbidade e tornando-a menos invasiva. Infelizmente, há menos dignidade na já indignidade em viver com uma gastrostomia sem seu correto manejo. Qualquer um, de qualquer especialidade, que milite com pacientes portadores de gastrostomia, convive com sofredores de sondas entupidas, espurcas, vazando; roupas sujas, peles inflamadas. Difícil dizer qual o motivo ou motivos que levam à negligência destas sondas e seus donos. Cuidar de uma gastrostomia é um procedimento pequeno que não importa aos grandes? Cuidar de uma gastrostomia não é glamuroso e não importa aos influencers? Cuidar de uma gastrostomia não é interessante, pois só menos favorecidos a tem? Nada disso é verdade. Indigno é quem pode usar estas razões.
O manejo das gastrostomias demanda uma equipe multidisciplinar. A despeito da beleza da multidisciplinaridade, vemos um problema relacionado às gastrostomias. Cirurgiões deixam o cuidado a enfermeiros que repassam à nutricionistas que encaminham a nutrólogos que voltam aos cirurgiões para manter o ciclo ativo. Bem o centro geográfico e de massa do corpo virou terra de ninguém. Mais um problema, a falta de profissionais interessados e falta de literatura para aqueles interessados. Nada melhor então que comemorar o lançamento deste livro. Profissionais interessados, competentes e de diversas formações fizeram deste livro um marco. Englobando todos os aspectos da gastrostomia, com enfoque no manejo e complicações, é mister que seja lido por todos aqueles que possam tornar mais digna a indignidade de não comer.

Prof. Dr. Fernando Herbella
São Paulo, Março de 2025.