Publicado em 31 de janeiro de 2024.

A Atenção Primária à Saúde tem sido discutida como uma alternativa ao
modelo de atenção em saúde na saúde suplementar. Estamos falando mais sobre
isso por causa de uma necessidade extrema de adequar custos com saúde. Mas
será que é apenas isso que importa? Ou isso será uma consequência desse
modelo?
No Brasil temos mais de 45% da população com pelo menos uma
doença crônica não transmissível, segundo dados da última pesquisa do
IBGE. Normalmente olhamos para o cuidado com essas doenças quando nos
deparamos com elas em situação de vulnerabilidade, em algum agravo, quando
a doença já está sendo prejudicial.
A Atenção Primária à Saúde tem uma lógica diferente. O modelo está
pautado no cuidado com cada condição de saúde, acompanhando o indivíduo
desde o início da vida até a velhice. O cuidado é integral e coloca a pessoa no
centro. É nesse modelo de atenção que passamos a promover saúde e prevenir
doenças. Estímulo ao autocuidado, acompanhamento em cada etapa de nossa
vida, utilizando a ciência para nos apoiar, integralmente, a uma longevidade, seja
em condições hígidas de saúde ou em mais específicas, como quando temos
uma doença crônica associada ou uma situação mais vulnerável em saúde.
Mas como podemos implantar esse modelo? Será que temos maturidade e
confiança para entender que liberdade em saúde não significa ir aonde quisermos
e a qualquer momento, tratando apenas da dor? Como podemos engajar as
pessoas no autocuidado e nos benefícios que o cuidado integral traz? Como
trabalhar a atenção no primeiro contato, a longitudinalidade, a integralidade e
a coordenação do cuidado? Essas dúvidas diárias estão presentes em nosso
dia a dia e trabalhar num conhecimento mais pleno sobre elas, contando com
experiências de pessoas e organizações que já implantaram e operacionalizaram
esse modelo tendem a nos dar a força necessária para irmos no mesmo caminho.
Este livro fez isso, reuniu pessoas gabaritadas não apenas na teoria,
mas na prática. Especialistas que já vivenciaram desde a concepção, estudo
da população, estratificação do risco, desenho dos protocolos e linhas de
cuidado, definição de sistema de prontuário a ser utilizado, modelo da estrutura
física da clínica, localização, definição da equipe técnica e dimensionamento
da mesma pelo tamanho da população a ser atendida e pelas condições de
saúde associadas a essa população. A proposta desta reunião de profissionais
nos possibilita viajar, em cada um dos capítulos, pelas suas experiências.
Ver o conhecimento técnico de cada um, associado à prática. Perceber, por
meio de diversas pessoas experts no tema, como foi implantar o modelo de
atenção primária, como tem sido engajar pessoas e como o modelo é aplicável,
resguardando as diferenças que temos em nosso amplo território geográfico, nas
diversas empresas existentes e nas condições de saúde de cada público que
teve o privilégio de ter esse modelo, pela visão dos especialistas aqui reunidos.
Claro que nem tudo são flores. O modelo de Atenção Primária à Saúde
traz, para o seguimento da saúde suplementar, uma mudança cultural que tem
um grande desafio. Imagina você, em algum momento anterior de sua vida ou
até mesmo agora, ou imagine alguém de sua família ou de sua rede de amigos,
saindo de um modelo de livre acesso, sem coordenação de cuidado, para o de
atenção primária. Quando penso nisso percebo o quanto já temos, pelo prisma
das pessoas que utilizam o serviço de saúde, um grande desafio. Não é simples
engajar para essa mudança. E isto, com certeza, é a grande chave de sucesso
para que o modelo venha a ter mais força e êxito em sua implantação. As dores
de uma implantação, as ações realizadas que agregaram valor e deram certo e
as que não deram, também serão abordadas aqui pelos especialistas que fazem
dessa obra a melhor que já vi sobre o tema.
Uma coisa é certa: a mudança é necessária para que tenhamos mais
saúde e uma sustentabilidade do setor. E essa mudança pode ser estimulada e
praticada por cada um de nós, na condição de pessoas que utilizamos o serviço
de saúde, como líderes em organizações que têm oferecido serviços de saúde,
na posição de empresários que, de certa forma, sustentamos a saúde que
oferecemos aos funcionários e familiares das empresas onde atuamos.
O dia é hoje, a hora é agora e o conhecimento técnico e as experiências
estão reunidas aqui como fonte de motivação para sermos agentes de mudança,
deixando um legado para a sociedade que leva a um melhor cuidado, à
longevidade e à qualidade de vida e bem-estar. Você faz parte disso e o desejo
é que tenhamos apenas uma coisa: SAÚDE!

André Machado