A Aventura da Inovação: Grandes Projetos como Instrumento de Política Tecnológica
Este trabalho corteja uma ideia central – a da viabilidade de Grandes Projetos como Instrumento de Política Pública para incentivo à Inovação Tecnológica. Para tanto, analisamos sucinta e comparativamente o Projeto Manhattan e o Programa Apollo, possivelmente os empreendimentos científico-tecnológicos mais emblemáticos do século XX, bem como outras iniciativas mais recentes, supostamente semelhantes, mas não sem antes introduzir elementos essenciais à discussão. Primeiramente esboçamos uma noção de inovação que exclui mudanças puramente organizacionais ou mercantis, mas inclui as não sancionadas pelo mercado. Nela o processo inovativo, que é essencialmente a busca de solução para um problema, não decorre da mera aplicação da Ciência e guarda autonomia da pesquisa científica, é cumulativo e por isso influenciado pelo passado, mas pode exibir descontinuidade, é evolutivo, intencional e condicionado economicamente. Em seguida exploramos as duas dimensões fundamentais da Mudança Técnica: não precisão (incerteza) que é radical em seus aspectos técnicos, econômicos e sociais, e precisão (necessidade) cuja sustentação absoluta, analítica ou quantitativa é deficiente, mas pode ser defendida em termos relativos. Depois, buscando cotejar as diversas perspectivas teóricas sobre Políticas Tecnológicas e Industrias propomos um modelo analítico que nos permitiu separá-las em onze categorias, quatro das quais baseadas na teoria econômica mainstream e as demais em visões alternativas.
Concluímos que a contradição entre as duas dimensões fundamentais da Inovação – incerteza e necessidade - implica distribuição assimétrica de custos e benefícios, de forma que usualmente alguém perde dinheiro no processo – normalmente quem se atreve a se ocupar das etapas mais importantes e arriscadas. Constatamos também, a partir da comparação entre Políticas Tecnológicas, que elas parecem se preocupar principalmente com as condições necessárias para o surgimento da Mudança Técnica, procedendo mais ou menos como a lei de Say que assume que toda oferta gera sua própria demanda, o que não seria problema para uma nação central que usa e abusa dos instrumentos disponíveis para manter-se na vanguarda em várias fronteiras tecnológicas simultaneamente, mas pode trazer dificuldades para as que aspirem inovar mas não dispõem dos mesmos recursos.
Depois, analisando iniciativas concretas de Políticas Tecnológicas classificadas como Orientadas a Missão, argumentamos que estas não correspondem exatamente ao que aqui denominamos Grande Projeto, que está mais próximo dos programas históricos analisados. Defendemos também que dificuldades, frequentemente apontadas no emprego dos Grandes Projetos do passado como modelo de política para enfrentamento de grandes problemas econômicos e sociais contemporâneos, têm mais relação com tal divergência de classificação do que com características intrínsecas ao Grande Projeto. Com efeito, comparando Manhattan, Apollo e casos mais recentes indicamos que, entre outros aspectos, clareza inequívoca da meta e a oportunidade tecnológica para seu atingimento são os traços definidores que geralmente não estão presentes nos instrumentos Orientados a Missão.
Por fim, argumentamos que Grandes Projetos seriam capazes de complementar os instrumentos de política anteriormente analisados, deliberadamente explorando trajetórias tecnológicas diversas, coordenando agentes, articulando esforços e estabelecendo rumos, de forma a superar as dificuldades apontadas. Mais ainda, as normalmente raras circunstâncias propícias à organização de um Grande Projeto podem apresentar-se mais frequentemente para países periféricos, constituindo assim uma alternativa eficiente para aplicação de seus escassos recursos na busca por inovação.
A Aventura da Inovação: Grandes Projetos como Instrumento de Política Tecnológica
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DOI: 10.22533/at.ed.414201205
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ISBN: 978-65-5706-041-4
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Palavras-chave: 1. Inovações tecnológicas – Política governamental – Brasil. I.Título.
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Ano: 2020